Numa entrevista à agência Lusa, que será divulgada no fim de semana, André Silva considerou que Marcelo Rebelo de Sousa “tem estado acima daquilo que tem sido a sensibilidade dos partidos políticos” na questão dos direitos humanos e também noutras matérias, aproveitando para criticar a posição do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
“É absolutamente incoerente quando Santos Silva diz que não dá lições de direitos humanos à China, mas depois vai dá-los à Venezuela. É conforme dá ou não jeito aos interesses económicos portugueses”, argumentou o deputado do partido Pessoas-Animais-Natureza, que se recusou a integrar a comitiva da visita de Estado do Presidente português à China em sinal de protesto.
André Silva lembrou que a China tem “cada vez mais interesses económicos em Portugal e na Europa”, mas as diplomacias portuguesas e europeias estão a perder a oportunidade de colocar na agenda a questão dos direitos humanos.
“Penso e sinto que estamos a perder uma oportunidade para que Portugal e a Europa possam forçar o debate dos direitos humanos e da autodeterminação do povo tibetano juntamente com o regime chinês”, sustentou.
O PAN “estará disponível para ir a qualquer viagem”, à China ou a qualquer outro país, “desde que haja abertura, que não há, do regime chinês para falar dos direitos humanos”, salientou.
“Seria hipócrita ir à China deixar-me fotografar com os dirigentes chineses e para falar das relações seculares, mas perante uma recusa total em falar dos direitos humanos”, defendeu.
André Silva admitiu que Marcelo “falou bem, mas não teve qualquer resposta por parte do Presidente chinês”.
Na segunda-feira, o Presidente português classificou a ausência do BE e do PAN na sua visita de Estado à República Popular da China como “um sinal da liberdade que existe em Portugal”.
Em resposta à comunicação social, num hotel de Xangai, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “não é a primeira vez que acontece” e defendeu que “assim deve ser, a escolha deve ser livre”.
Interrogado se não ficaria mais confortável se na China estivesse acompanhado por todos os partidos com representação parlamentar, respondeu: “Não, eu fico confortável com aqueles que vêm. Sabem, o povo português diz uma coisa: dança quem está na roda”.
“Portanto, quem quer estar na roda, está na roda. Quem está na roda, dança. Quem não quer estar na roda, não dança daquela vez, dança da próxima”, completou.
No sábado, em Pequim, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu o “respeito efetivo pelos direitos humanos” a nível global, numa intervenção perante o Presidente da China, Xi Jinping, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
O Presidente português participava na segunda edição do fórum “Faixa e Rota”, iniciativa chinesa de investimento em infraestruturas da Ásia à Europa, num painel sobre ambiente e desenvolvimento sustentável, que decorreu à porta fechada e não foi transmitido no centro de imprensa.
De acordo com o seu discurso escrito, a que a agência Lusa teve acesso, a propósito do combate às alterações climáticas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: “O mais importante é combinar a ação multilateral com diálogo político, porque essa é verdadeiramente a única via para garantir um mundo melhor, em que a paz, o desenvolvimento, a justiça e o efetivo respeito pelos direitos humanos prevaleça”.
Mais tarde, em declarações aos jornalistas, o próprio chefe de Estado destacou essa referência aos direitos humanos.
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