A crise pandémica de Covid-19 tornou urgente a desocupação de camas nos hospitais. Para responder, o Instituto de Segurança Social adotou "medidas extraordinárias" para retirar dos hospitais estas pessoas — que já tiveram alta e apenas permanecem por falta de apoio da família. Entre estas medidas está a integração destes utentes em lares e estruturas da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), escreve esta sexta-feira o jornal Público.
Segundo a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), em maio deste ano havia 1500 camas ocupadas pelos "internamentos sociais", que podem manter-se durante meses ou até mesmo anos. Esse número representava 8,7% do total de internamentos. A Administração Regional de Saúde de Lisboa adiantou, na passada terça-feira, ao jornal diário que estavam 130 pessoas identificadas como casos sociais e internadas nos 13 hospitais da sua área de influência com serviços de urgência geral a funcionar. "A grande maioria são pessoas dependentes, sendo que 63 (48,5%) do total têm 80 ou mais anos", explicou esta ARS.
Ao Público, o Instituto de Segurança Social explica que há uma equipa, com elementos dos ministérios da Saúde e da Segurança Social, que tem vindo a "definir circuitos e agilizar procedimentos" para aumentar os locais disponíveis para as pessoas internadas por "motivos sociais" — isto em lares de idosos ou nas estruturas da RNCCI. O Instituto de Segurança Social adianta que tal implicou um alargamento dos acordos de cooperação e a criação de "um maior número de vagas sociais", nomeadamente ao nível dos cuidados continuados de saúde mental.
Os hospitais têm feito esforços diários para aumentar o número de camas disponíveis nos hospitais. No Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, saíram dez destes utentes numa só quarta-feira — e o hospital continua à espera de resposta para outros 15 casos.
No Hospital de São João (HSJ), 16 pessoas que permaneciam no hospital há mais de um ano foram integradas num lar, há duas semanas, tendo ficado com outras 16 pessoas, "uma das quais está à guarda do hospital desde 2018, à espera de uma solução", disse ao Público a diretora do serviço social do HSJ, Alexandra Duarte.
No Plano da Saúde para o Outono-Inverno 2020/21, conhecido a 21 de setembro, o Governo propunha-se a reforçar "o papel das equipas de gestão na articulação com o setor social de forma a evitar o prolongamento por motivos sociais", para "maximizar a resposta e a capacidade hospitalar para a atividade não-covid". O Governo defendia que "a criação de hospitais de retaguarda, especialmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto" constituía "uma medida eficaz de melhoria da eficiência".
O Público interrogou o Ministério da Saúde sobre se estes hospitais vão avançar e, também, de que forma é que se coadunam com a retirada destes doentes dos hospitais pela Segurança Social, mas não obteve resposta.
Para a diretora do serviço social do Hospital de São João, estes hospitais de retaguarda não são necessários. Para o diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário do Porto, José Barros, os hospitais de retaguarda não resolvem o problema e o mais eficaz seria aumentar a rede nacional de estruturas residenciais mediada pela Segurança Social.
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