"Muitos de vós podem ainda contar em primeira mão histórias de violência e discórdia, uns na sua casa, outros de conhecidos" e "outros ainda pelo temor que feridas do passado se repitam e tentem apagar o caminho de paz já percorrido, como em Cabo Delgado", referiu.
A região nortenha de Moçambique enfrenta desde há três anos ataques a aldeias feitos por grupos armados dos quais pouco se conhece, além dos indícios de radicalização islâmica - ataques que já provocaram pelo menos 200 mortos e milhares de deslocados internos.
Face à situação no Norte e uma guerra civil que durou mais de uma década, deixando feridas e clivagens que perduram, o Papa deixou uma mensagem para Moçambique, no dia em que se celebra um mês da assinatura do terceiro acordo de paz entre Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
"Não se pode pensar o futuro, construir uma nação, numa sociedade sustentada na violência", destacou, sublinhando que é preciso dizer não à ideia de "olho por olho, dente por dente".
"Nenhum país tem futuro se o motor que cobre as diferenças é a vingança ou o ódio", referiu o Papa.
Quaisquer armas que se usem como resposta não são solução, referiu, defendendo que são antes a causa de "novos conflitos" com um "custo alto".
"Vós tendes direito à paz", acrescentou, num Estádio do Zimpeto lotado, apesar da chuva.
Um apelo para o combate à corrupção
O Papa Francisco fez ainda um apelo para o combate à corrupção em Moçambique, onde há muitas riquezas, mas grande parte da população vive na pobreza.
“Moçambique possui um território cheio de recursos naturais e culturais”, destacou, mas apesar destas riquezas, “uma quantidade enorme de população vive abaixo do nível de pobreza”, referiu durante a homília numa missa campal no Estádio Nacional do Zimpeto.
Segundo o Papa, que falava perante milhares de pessoas, “por vezes, parece que aqueles que se aproximam com suposto desejo de ajudar, têm outros interesses. É triste quando isto se verifica entre irmãos da mesma terra, que se deixam corromper”.
“É muito perigoso aceitar que a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa”, sublinhou, fazendo um voto: “que não seja assim entre vós”.
A utilização dos recursos naturais de Moçambique a favor de toda a população, por um lado, e o combate à corrupção e desigualdades, por outro, são temas que têm motivado debate aceso pela sociedade moçambicana nos últimos anos.
O país assiste desde 2016 ao desenrolar das investigações ao caso das dívidas ocultas no valor de 2,2 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros) com várias figuras ligadas ao Estado, ex-banqueiros e negociantes estrangeiros detidos por suspeita de fraude, lavagem de dinheiro, corrupção e outros crimes.
As dívidas foram suportadas por garantias soberanas entre 2013 e 2014, mas o dinheiro nunca chegou às empresas estatais a que se destinaria, afundando a economia nacional.
Moçambique deverá tornar-se na próxima década num dos dez principais fornecedores de gás natural liquefeito do mundo, criando riqueza que deverá catapultar o crescimento económico do país e com capacidade para reduzir bastante a pobreza – que ainda afeta cerca de metade dos 28 milhões de habitantes.
Desde que chegou ao país, na quarta-feira, o Papa Francisco tem saudado os esforços de paz em Moçambique, apelando à atenção dos dirigentes e população moçambicana para a sua manutenção.
A homília foi um dos pontos centrais da missa campal com que o Papa Francisco encerrou a passagem por Moçambique, continuando o seu périplo em Madagáscar, para onde parte hoje, continuando na segunda-feira rumo às ilhas Maurícias.
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