Franca Giansoldati, vaticanista do jornal Il Messaggero, disse à Lusa que o facto de o Papa ter decidido que o consistório para a nomeação de novos cardeais deveria ser realizado a 27 de agosto “foi uma escolha inusitada” e também alimentou os rumores.
“Parecia quase feita para acelerar as coisas. Logo depois, anunciou que iria para Aquila, cidade italiana atingida por um sismo em 2009, mas também berço do Papa Celestino V. Alguém pensou que isso também poderia ser um sinal do seu abandono do papado. Uma espécie de febre desenvolveu-se em torno dessas datas”, adiantou.
O próprio Papa Francisco não descartou a renúncia e, durante uma viagem ao Canadá em julho passado, declarou “com toda a honestidade” que tal não seria “uma catástrofe”.
“O Papa pode mudar, mas será o Senhor quem o dirá. A porta está aberta, mas até hoje não bati com ela”, disse o pontífice.
Segundo Giansoldati, as especulações sobre a saúde de Jorge Bergoglio são criadas pela falta de informações fiáveis.
“O corpo do Papa não lhe pertence, pertence à Igreja. Além disso, também é uma figura pública e há mais de mil milhões de católicos no mundo que têm o direito de conhecer o estado de saúde do pontífice. Cria-se uma opacidade na saúde do Papa que depois também dá fôlego a mil hipóteses. Não há informações”, disse a vaticanista italiana.
“Até o colégio dos cardeais nunca recebeu informações sobre a saúde do Papa. Então nesse contexto fica claro que há boatos e notícias às vezes baseadas em nada”, adiantou.
Cada vez em mais ocasiões, o Papa Francisco apresenta-se em cadeira de rodas, mas mantém uma agenda carregada e para o próximo mês já existem viagens programadas incluindo ao Cazaquistão (13 a 15 de setembro).
Em julho do ano passado, o Papa Francisco foi operado a um problema no cólon que obrigou à remoção de parte desse órgão.
Já então circulavam rumores de renúncia e, numa entrevista à rádio espanhola Cope, Francisco disse que “quando um Papa está doente, sopra um vento ou furacão de conclave”.
Depois, em maio, pela primeira vez o Papa Francisco mostrou-se em público sentado numa cadeira de rodas.
A renúncia de Celestino V é, depois da do Papa Bento XVI, a mais famosa da história da Igreja. Eleito em 1294, enfrentou manobras políticas e económicas e após 4 meses renunciou.
Bento XVI, durante uma visita a Aquila, após o grave sismo de 06 de abril de 2009, ofereceu o seu pálio (faixa circular branca adornada de cruzes bordadas, usada sobre os ombros, e da qual pende uma tira sobre o peito e outra sobre as costas), deixando-o sobre o túmulo do Papa Celestino V.
Este gesto foi depois interpretado como um sinal da renúncia que apresentaria quatro anos depois.
Franca Giansoldati diz à Lusa que as notícias sobre o estado de saúde do Papa disponíveis “são fragmentárias, insuficientes”.
“Sabemos que tem um problema na cartilagem do joelho direito (…) provoca-lhe dores terríveis quando anda”, refere.
Ao contrário do que aconteceu no passado com o Papa João Paulo II e outros pontífices, nenhum médico assina um boletim médico do Papa Francisco, sendo estes “emitidos apenas pelo Gabinete de Imprensa da Santa Sé”, adianta Giansoldati.
Várias vezes se falou da possibilidade de o Papa ser submetido a uma cirurgia ao joelho, mas o próprio parece não quer fazê-lo.
“Em vez de fazer a minha cirurgia, renuncio”, brincou o Papa durante uma assembleia com os bispos em maio passado.
A partir daí, os rumores de demissão tornaram-se descontrolados, até ao consistório de sábado.
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