“O papa Francisco é muito persuasivo, mas não tem o poder de resolver todos os conflitos”, afirmou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, durante uma conferência de imprensa em que frisou que a viagem papal à Birmânia (atual Myanmar) e ao Bangladesh tinha sido planeada antes da crise humanitária que atinge a minoria muçulmana rohingya.

A viagem do papa Francisco à Birmânia é uma das mais sensíveis do ponto de vista diplomático.

As autoridades birmanesas são acusadas de limpeza étnica, sendo que milhares de pessoas da minoria rohingya foram obrigadas a refugiar-se em países vizinhos, sobretudo no Bangladesh.

Durante a conferência de imprensa, Greg Burke disse que o papa não perdeu a sua autoridade moral e que não tem medo de “campos de minas”.

No entanto, Jorge Bergoglio não pode chegar ao país “de paraquedas” e resolver tudo num instante, sublinhou.

Greg Burke frisou ainda que a visita “não foi pensada para se centrar nos refugiados”.

O porta-voz do Vaticano explicou que a visita papal pela Birmânia e pelo Bangladesh foi decidida em julho, um mês antes do início da operação militar birmanesa, que obrigou a mais de 650 mil rohingya a refugiarem-se no Bangladesh.

As declarações de Greg Burke foram dadas antes da ida do líder da Igreja Católica para o Bangladesh.

Na visita aos dois países, foi criada a expectativa de uma mediação do papa Francisco para que fosse acelerado o processo de repatriação dos refugiados, havendo já uma declaração de intenções assinada pelos dois países na semana passada.

A campanha militar birmanesa no estado de Rakhine – qualificada de “limpeza étnica” contra os rohingyas pelo Alto Comissário dos Direitos Humanos da ONU e pelo secretário-geral da ONU – começou em finais de agosto e já motivou a fuga de mais de 620 mil pessoas para o vizinho Bangladesh.