Curtis, polícia do Colorado, ficou ferido na perna e espera voltar a andar bem, enquanto Robin terá de viver com estilhaços de metal na sua perna.

"As nossas vidas mudaram para sempre, mas estamos entre os que tiveram sorte, alguns nunca voltarão para casa", disse à AFP Robin Davis, que trabalha numa seguradora.

No domingo, o casal estava no seu terceiro dia no festival e tinha uma posição privilegiada, a apenas 30 metros do palco. O hotel Mandalay Bay, de onde vieram os tiros, estava à sua direita.

"O último grupo (...) havia começado a tocar quando ouvi a primeira rajada", disse Curtis.

"Sou polícia, então percebi imediatamente que o barulho era produzido por uma arma. Na segunda rajada, agarrei a Robin e disse: 'Vamos, são tiros'. Percebi que os tiros vinham da direita e pensei que o atirador estava na área VIP".

"Eu disse 'não caias ou vamos morrer pisados'". Em seguida procuraram refúgio.

Na terceira rajada de tiros, Curtis caiu ao ser atingido na perna direita. "Não podia parar, toquei na perna e a mão estava cheia de sangue. Os tiros voltaram e estávamos lá, no meio, sem proteção, esperando não morrer".

Ele sabia que se a bala tivesse atingido a artéria femoral estaria morto em dois minutos. "Percebi que não tinha acontecido isso porque o tempo passava e não desmaiava".

O atirador parou e Robin pediu ajuda, fez um garrote sobre o ferimento com uma fita da sua mochila. Curtis foi carregado por várias pessoas até um veículo que tinha outros 10 feridos.

Viagem 101 e amigos para a vida

Curtis salvou-se graças a um bom samaritano que fez três viagens ao hospital para levar feridos.

Do seu quarto no hospital, o agente relembra todos os momentos: "Estou sobretudo irritado, porque [o atirador] fez isto, as nossas vidas mudaram para sempre sem nenhum motivo".

"Normalmente, quando estas coisas acontecem, eu corro para o lugar de onde os tiros vêm, em vez de fugir. E eu não devia ter sido ferido quando tentava fugir".

Os nervos na sua perna sofreram danos e ele não sentia o pé direito quando chegou ao hospital. "Tenho medo. Os médicos dizem que vou recuperar a sensação no meu pé direito, mas, por enquanto, sinto apenas como se estivesse  a queimar", relata.

Curtis, que é polícia há 23 anos, aprendeu a controlar as suas emoções, mas diz que, desde domingo, sente "a necessidade de falar sobre tudo isto".

O massacre de Las Vegas, que provocou a morte de 58 pessoas e feriu mais de 500 pessoas, também levou ao surgimento de amizades profundas.

O motorista da carrinha procurou saber se Curtis já havia recebido alta. Um dos socorristas, um polícia de Delaware, também perguntou como estava.

"Agora tenho novos amigos que vou carregar para a vida toda", diz Robin com um sorriso. "Essa é a conclusão daquela noite. Não vamos falar sobre quem fez isso, mas quem ajudou os outros".

Curtis, que receberá alta esta sexta-feira, diz que "ama Las Vegas", a sua cidade favorita e onde já esteve "100 vezes". "Veremos se haverá uma 101", disse, acrescentando que planeia voltar com amigos em fevereiro próximo.