Eduardo Cabrita tem prevista uma audição regimental na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais nas próximas semanas, pelo que a reunião deverá acontecer antes do processo sobre o Orçamento do Estado de 2019, em outubro, admitiu hoje o presidente da comissão, Pedro Bacelar de Vasconcelos.

A proposta foi feita pelo PSD e votada por unanimidade, apesar das divergências quanto à urgência pedida pelos sociais-democratas, que compararam este caso ao do furto de armamento de Tancos, como disse Carlos Peixoto.

"Este caso entronca claramente com o caso Tancos. O que está em causa, mais do que um simples furto, é quase o colapso do Estado", afirmou.

Filipe Neto Brandão, do PS, ripostou tratar-se de "um exercício de demagogia" dado que não demonstra que os dois casos têm ligação entre si e que se trata de um caso já com alguns meses.

Para Carlos Peixoto, a exigência de respostas da parte do ministro "é permanente".

"Só admito que não seja urgente se o ministro da Administração Interna vier dizer que nada tem para nos dizer", invocando o segredo de justiça, por exemplo, ironizou o parlamentar social-democrata.

Da parte do PCP, António Filipe disse estar de acordo com a audição do ministro, mas não com a urgência, enquanto Telmo Correia, do CDS-PP, apoiou o "carater de urgência" para ouvir Eduardo Cabrita.

Apesar das divergências quanto à urgência da audição, todos os partidos votaram favoravelmente o requerimento do PSD.

O caso remonta a janeiro de 2017, quando foi detetado o desaparecimento, do armeiro da sede da Polícia de Segurança Pública (PSP), de 57 armas glocks após a apreensão de uma arma de fogo da polícia durante uma operação policial que decorreu no Porto.

Das 57 armas extraviadas, três foram recuperadas pela PSP em fevereiro deste ano durante uma operação policial realizada em Lisboa e outras três foram detetadas, em 2017, pelas autoridades espanholas, em Ceuta.

Para o PSD, pode “indiciar a sua apropriação por parte de redes internacionais dedicadas ao crime organizado, o que acentua ainda mais as preocupações e as garantias de segurança que o Estado deve assegurar aos seus cidadãos”.

Do depósito das armas da direção nacional da PSP, onde estão armazenadas algumas armas que não estão distribuídas aos polícias ou aquelas que pertencem a efetivo policial que não necessita de andar armado, foram também extraviadas, juntamente com as 57 glock, os respetivos estojos, carregamentos e os kits de limpeza.

Na altura foram suspensos os dois agentes responsáveis pela listagem das armas, aberto um inquérito e uma comunicação ao Ministério Público para efeitos de investigação criminal.

No parlamento, a então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, disse que o inquérito não estava concluído, mas que já tinha “conclusões preliminares que apontam para falhas de supervisão e controlo”, e o PSD alerta que o Governo “não pode continuar a fingir que não é nada consigo e que o decurso do tempo resolve tudo".

O PSD justifica o pedido de audição ao “estranho silêncio do Governo quanto ao desfecho de um inquérito que tinha 45 dias para ser concluído”, quando já lá vão mais de 540.


Última atualização às 12:17