Numa reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre confiança e sustentação da paz, Turk focou a sua intervenção no conflito no Sudão, onde o “impacto sobre os direitos humanos tem sido catastrófico” e “de partir o coração”.

Por videoconferência, o alto comissário referiu um ataque aéreo dos militares sudaneses na segunda-feira, que atingiu as proximidades de um hospital na área de Cartum, no leste do Nilo, assim como a ocupação de vários edifícios residenciais em Cartum por parte do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que usaram como bases operacionais e para lançarem ataques a áreas urbanas densamente habitadas.

“Os civis continuam em risco agudo e são impedidos de aceder a suprimentos e assistência essenciais. Em suma, os princípios da distinção, proporcionalidade e precaução foram espezinhados por ambas as partes, o que condeno veementemente”, sublinhou.

“A confiança foi obliterada. O futuro do Sudão depende da construção da confiança entre o povo sudanês e as instituições que deveriam servi-lo. Os direitos humanos, o fim da impunidade e a participação da população — especialmente mulheres e jovens — devem ser os motores da crise atual, para que o Sudão finalmente se estabilize”, apelou Volker Turk.

Na reunião presidida pelo ministro das Relações Exteriores da Suíça, Ignazio Cassis, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos recordou que em 2019 o povo do Sudão “levantou-se para reivindicar os seus direitos humanos e derrubar a ditadura, apenas para ser derrotado novamente pelo golpe militar de outubro de 2021”.

“Mesmo assim, a esperança das pessoas não foi esmagada. Quando visitei o Sudão em novembro do ano passado, fiquei comovido com a coragem deles enquanto trabalhavam mais uma vez para garantir uma transição para a governança civil”, referiu.

Volker Turk lamentou ainda que os direitos humanos sejam “um conceito estrangeiro ou de elite” no Sudão, o que torna a situação atual “ainda mais trágica”.

O alto comissário referia-se aos combates desencadeados desde 15 de abril entre o exército e o grupo paramilitar RSF, um conflito que já fez pelo menos 550 mortos e mais de 4.200 feridos e obrigou milhares de sudaneses a deslocarem-se para zonas mais seguras do país ou a refugiarem-se em nações vizinhas como o Sudão do Sul, o Egito ou o Chade.

Os combates iniciaram-se após semanas de tensão sobre a reforma das forças de segurança nas negociações para a formação de um novo governo de transição.

Ambas as forças estiveram por trás do golpe conjunto que derrubou o executivo de transição do Sudão em outubro de 2021.