O Naleraq, que defende a rápida separação da Dinamarca, ficou em segundo lugar com 24,5%. Já os dois partidos do Governo de esquerda, no poder nos últimos três anos, e também independentistas moderados, sofreram uma queda, numas eleições marcadas pelo interesse do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em adquirir a ilha ártica.

O socialista Inuit Ataaqatigit (IA) do presidente regional, Múte B.Egede, ficou em terceiro lugar com 21,4%, 15 pontos a menos do que nas eleições de 2021. O parceiro de coligação, o social-democrata Siumut, histórico dominador da política gronelandesa, obteve 14,7%, metade do valor de há quatro anos.

O liberal Atassut, moderado em relação à independência, subiu quatro décimas, para 7,3%, enquanto o Qulleq, com uma linha semelhante ao Naleraq, ficou de fora do parlamento, com 1,1%.

A vitória do Demokraatit foi uma surpresa: triplicou os votos e passou do quarto para o primeiro lugar, numa eleição em que a única sondagem – há um mês e com 30% de indecisos – o colocava em terceiro lugar, com quase 19%.

É a primeira vez desde que a Gronelândia adotou o estatuto de autonomia, em 1979, que o vencedor das eleições não é nem o Siumut nem o AI, as duas únicas forças políticas que lideraram governos até agora.

O Naleraq, que esteve à frente da contagem provisória até meio das eleições, também se saiu bem, duplicando o apoio.

“Queremos chegar a toda a gente. Este é um momento em que temos de estar juntos. Da parte do Demokraatit, estamos abertos a falar com todos os partidos e a procurar a unidade, especialmente com o que está a acontecer no estrangeiro”, disse o líder do Demokraatit, Jens-Frederik Nielsen, à emissora pública gronelandesa KNR.

Nielsen, que durante a campanha eleitoral criticou a “falta de respeito” de Trump pela Gronelândia, defendeu, após o anúncio do resultado, uma postura tranquila em relação aos EUA e a “construção de uma base” antes de falar sobre a criação de um Estado independente.

“Respeitamos o resultado das eleições. Agora o trabalho começa num novo período”, escreveu, por sua vez, Egede nas redes sociais, sublinhando que o AI “está pronto” para participar nas negociações.

Todas as formações parlamentares criticaram durante a campanha as declarações de Trump, que prometeu investimentos bilionários na ilha se esta se juntasse aos Estados Unidos, uma opção rejeitada por 85% dos gronelandeses, de acordo com uma sondagem realizada há várias semanas.

A Gronelândia dispõe, desde 2009, de um novo estatuto de autonomia, que inclui o direito à autodeterminação, uma ideia apoiada por todas as forças parlamentares, mas a médio e longo prazo, com exceção do Naleraq.

Com pouco menos de 57 mil habitantes em 2,2 milhões de quilómetros quadrados – 80% dos quais permanentemente cobertos de gelo -, a Gronelândia depende fortemente da ajuda económica da Dinamarca, que fornece 40% das receitas, e da pesca, que representa 90% das exportações.

A taxa de participação eleitoral foi de 70,9%, mais cinco pontos do que em 2021, quando foi excecionalmente baixa.