A partir de outubro de 2019, o passaporte vermelho usado desde 1988 pelos britânicos dará lugar a um novo documento, azul, um regresso à cor original.

No entanto, a britânica De La Rue perdeu a corrida para produzir os novos passaportes pós-brexit, confirmou o CEO da empresa à BBC, acrescentando que o negócio foi ganho pela empresa holandesa Gemalto.

Em declarações à estação pública de rádio e televisão, Martin Sutherland, CEO da De La Rue, desafiou a Primeira-ministra, Theresa May, e a Secretária da Administração Interna, Amber Rudd, a apresentar uma justificação. "Gostava de pedir a Theresa May ou a Amber Rudd que viessem à minha fábrica e explicassem aos meus dedicados funcionários porque é que consideram que esta é uma decisão sensata, a de exportar a produção de um ícone britânico".

"Nos últimos meses temos ouvido ministros contentes por vir falar sobre o novo passaporte azul e sobre o facto de ser um ícone da identidade britânica. Mas agora esse ícone vai ser fabricado em França", acrescentou.

Questionado sobre esta polémica, o Secretário da Cultura, Matthew Hancock, disse à BBC que a decisão ainda não está tomada.

No mesmo sentido, um porta-voz da Administração Interna confirmou que a decisão final ainda não é conhecida, e acrescentou que está a ser conduzido "um concurso justo e aberto para garantir que o novo contrato fornece um serviço seguro e de alta qualidade, e que oferece o melhor preço aos consumidores".

"Não obrigamos a que os passaportes sejam fabricados no Reino Unido. Uma parte dos livros em branco de passaportes é fabricado no estrangeiro, e não há razões de segurança ou operacionais para que tal não aconteça", acrescentou.

Segundo as regras europeias, o concurso tem de ser aberto a firmas europeias.

Uma coisa é certa, o debate está lançado.

Sutherland já disse que vai recorrer da decisão, que considera injusta. Apesar de reconhecer que De La Rue foi derrotada porque a Gemalto ofereceu um preço melhor, o CEO afirma que, em sentido contrário, não seria permitido à sua empresa, com sede no estrangeiro, produzir os passaportes franceses, por exemplo.

O trabalhista John Spellar considerou que "mais nenhum país da União Europeia se comporta desta forma", pois "apoiam a sua indústria". Decisões como esta motivaram o voto favorável ao Brexit, acrescentou.

"A saga dos passaportes azuis está a tornar-se uma comédia dramática. Primeiro, percebemos que não precisávamos de sair da União Europeia para ter passaportes azuis. Agora, sabemos que os passaportes serão produzidos por uma empresa estrangeira. E, acrescentando insulto à injúria, vamos pagar mais do que antecipámos porque o valor da libra caiu desde o [o voto favorável ao] Brexit e os documentos terão de ser importados", alertou Tom Brake, porta-voz dos liberais democratas no que ao Brexit diz respeito.

Eloise Todd, do movimento "Best for Britain" [O melhor para o Reino Unido], favorável à permanência na União Europeia, considera que "os novos passaportes azuis pró-brexit eram supostamente uma declaração de intenções, e agora descobrimos que serão feitos pelos franceses ou holandeses. A ironia é surreal", disse.

Mais de seis milhões de passaportes são emitidos anualmente a cidadãos britânicos. Os cidadãos britânicos com passaporte vermelho válido mesmo depois de outubro de 2019 só precisarão de renovar o documento quando este expirar.

Espera-se que o período de transição após a saída do Reino Unido dure entre 29 de março de 2019 (data prevista de saída do país da União Europeia) até dezembro de 2020.

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