"Eu peço desculpa por ter utilizado uma informação que não estava confirmada", afirmou Passos Coelho à chegada a Odivelas para a apresentação da candidatura de Fernando Seara à Câmara Municipal.

No entanto, Passos Coelho pediu que tal facto não desvie a atenção do que considera ser o essencial, reiterando que "o Estado falhou" e o Governo tem de fazer chegar rapidamente o apoio público aos familiares das vítimas.

"Temos hoje a confirmação clara de que o Estado falhou quando tantas pessoas perderam a vida como perderam, era muito importante que houvesse um mecanismo rápido de reparação", apelou.

Hoje de manhã, após uma visita ao quartel dos bombeiros de Castanheira de Pera, distrito de Leiria, o presidente do PSD acusou o Estado de falhar no apoio psicológico às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, dizendo ter tido conhecimento de que um suicídio ocorreu por falta desse apoio.

"Tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, de pessoas que puseram termo à vida, em desespero", sinal de que "não receberam a tempo o apoio psicológico que lhes devia ter sido prestado", declarou o líder dos sociais-democratas aos jornalistas.

Posteriormente, e depois de várias entidades terem negado a existência de casos de suicídio na região, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, João Marques, assumiu que foi ele que deu uma informação errada ao líder do PSD, Passos Coelho, sobre um alegado suicídio na sequência dos incêndios.

"Admito que houve uma grande irresponsabilidade", afirmou João Marques, que é também líder da concelhia do PSD e cabeça-de-lista do partido às autárquicas.

O líder do PSD salientou que, após a queda da ponte de Entre-os Rios, "em quatro dias" estava no terreno "um mecanismo expedito" de apoio às populações, dizendo que, neste caso, a maioria do apoio disponível tem vindo da sociedade civil, por instituições de natureza particular e cooperativa.

"Independentemente da culpa ou da responsabilização política, há uma responsabilidade objetiva do Estado", disse, salientando que um mecanismo aprovado pelo Governo será sempre mais rápido do que outro que venha a ser aprovado pelo parlamento.

Entre esse apoio, Passos Coelho destacou a importância do apoio psicológico: "Encontrei pessoas que estavam em circunstâncias difíceis, que se queixaram diretamente disso", afirmou.

"Se o erro que eu próprio cometi, quando fiz uma alusão a uma situação mais dramática cuja consequência não se confirmou, e ainda bem, se esse erro servir pelo menos para que haja uma atenção pública maior e o apoio público possa chegar mais rapidamente, terá essa consequência", disse.

Passos Coelho salientou que, logo após ter veiculado essa informação, um deputado no local referiu a sua não confirmação: "Não devia ter utilizado essa informação, devia-a ter pesado melhor, ter obtido uma confirmação", lamentou.

O líder do PSD escusou-se a responder às críticas do PS, que o acusou de se "aproveitar emocionalmente da tragédia", e disse que também não quis utilizar esta informação como "arma de arremesso partidária".

"Outra coisa é fechar os olhos e fingir que as coisas não acontecem", ressalvou.

Questionado se foi convocado para algum encontro com o primeiro-ministro para terça-feira, Passos Coelho respondeu negativamente.

Os incêndios que deflagraram na região Centro, há uma semana, provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos, e só foram dados como extintos no sábado.

Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.

A área destruída por estes incêndios - iniciados em Pedrógão Grande, no distrito de Leira, e em Góis, no distrito de Coimbra - corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal em 2016, que totalizou 154.944 hectares, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em março.

Das vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, pelo menos 47 morreram na Estrada Nacional 236.1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, concelhos também atingidos pelas chamas.

O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra.

O incêndio de Góis, que também começou no dia 17, atingiu ainda Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais.

[Notícia atualizada às 19:55]