"África é um continente jovem, o mundo vai ter quatro vezes mais habitantes do que tinha, precisa de quem produza alimentação a essa escala e acho que, até porque a fronteira entre África e Europa é de reduzida diferença em termos territoriais, a Europa tem que ter uma política africana à séria, sem condescendência, e tem de perceber que é em África que se joga boa parte da segurança no mundo", defendeu.
Paulo Portas falava à imprensa, na cidade da Praia, no final da sua intervenção no 1.º Encontro de Gestão de Reservas Externas dos Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa, sob o tema central "Os Desafios e as Tendências da Gestão de Reservas Externas no Contexto Internacional Atual".
O consultor e professor internacional notou que a Europa está a "envelhecer dramaticamente" e a imigração zero não é realista num mundo digital.
"A Europa tem duas opções, ou escolhe a imigração de que precisa e o faz legalmente e serenamente ou então é escolhida pela que quer e pela que não quer", aconselhou o ex-líder político.
Na sua intervenção, Portas falou sobre geopolítica, geoestratégia e geonegócios, entendendo que as relações internacionais são cada vez mais económicas, dando o exemplo da China, que aproveitou a globalização para crescer e "está a surpreender o mundo com a digitalização".
Em sentido contrário, disse que a Europa "dormiu na forma" e está a "perder o campeonato" da economia digital, porque está muito mais preocupada em saber como é que vai tributar as companhias digitais chinesas e americanas.
"Eu estaria mais preocupado em criar um ambiente favorável ao nascimento de grandes companhias digitais. Não tenho dúvida nenhuma que é útil uma tributação mais justa, mas o que é mais relevante fazer é esta pergunta: a Europa está ou não está a perder um campeonato muito perigoso para o futuro que é a economia digital?".
Numa incursão histórica, referiu que hoje o mundo tem mais oportunidades, mas a gestão das crises é mais descontrolada e que vive-se tempos de uma economia com alguma volatilidade.
Se por um lado, antes havia sistemas tensos, por outro, salientou, eram liderados por hierarquias verticais.
Para Pulo Portas, hoje sabe-se muito de crises financeiras, mas pouco de crises comerciais, que são as que demoram mais tempo a produzir efeitos, mas também mais tempo para serem recuperadas.
O encontro tem como objetivo promover um espaço de discussão de matérias relevantes no âmbito da gestão de reservas e de riscos, bem como a troca de experiências em relação aos desafios que se colocam à gestão de ativos externos no atual contexto internacional de enorme complexidade.
Durante o evento serão apresentados e debatidos temas como o contexto internacional e estratégias de investimento, políticas e normas na gestão de reservas, escolha de ativos de investimento, gestão e mitigação de riscos na gestão das reservas.
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