“Anuncio formalmente a todos os militantes que serei candidato à presidência do PSD nas eleições de 4 de dezembro próximo. Apresento a minha candidatura, com humildade e espírito de missão, mas com a convicção inabalável de que, com ela, sirvo o nosso país, os nossos compatriotas e o nosso partido”, afirmou, na apresentação pública à imprensa, que decorreu num hotel Lisboa.
O antigo líder parlamentar defendeu que só se candidata por "estar persuadido" de que tem "todas as condições para unir o PSD, para promover o seu crescimento realizando a sua tradicional vocação maioritária e para vencer as eleições legislativas de 2023, com uma solução de governo estável”.
Questionado pelos jornalistas, Rangel salientou que "na prática" as deslocações a Bruxelas e a Estrasburgo que fazem parte da vida de um deputado europeu "são incompatíveis com a liderança de um partido".
"Quando for eleito presidente do PSD vou renunciar ao mandato, pode não ser no primeiro dia ou mês a seguir às eleições,”, afirmou, justificando a ponderação da data por ser membro da conferência sobre o futuro da Europa até abril, embora admitindo que a “tarefa gigantesca” de liderar um partido pode não ser compatível com esta participação.
Numa longa conferência de imprensa - mais de uma hora entre a apresentação e as respostas aos jornalistas - Paulo Rangel prometeu “ser um líder do PSD a 100% com os dois pés em Lisboa”, fazendo questão de repetir esta referência à capital.
Questionado como fará a articulação com o grupo parlamentar - já que não é deputado -, Rangel admitiu tratar-se de um ‘handicap’ mas lembrou outros líderes sociais-democratas que não estavam na Assembleia.
“Terei uma relação estreitíssima com o grupo parlamentar, usarei o meu gabinete no grupo parlamentar intensamente, porque entendo este como o braço armado do partido”, afirmou.
Num outro recado implícito ao atual presidente do PSD, Rui Rio, Paulo Rangel frisou ser “um parlamentar”.
“Não pertenço àqueles que acham que o parlamento é um órgão que deve ser desvalorizado, pertenço justamente ao contrário”, afirmou, escusando-se a adiantar já nomes que gostaria de ver à frente da liderança da bancada, caso seja eleito presidente.
Questionado se informou previamente o Presidente da República e antigo líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, de que se iria candidatar à presidência do PSD, Rangel foi claro.
“Nunca falei com o Presidente da República sobre esta matéria (…) Aliás, há meses que não falo com o Presidente da República, coisa que até não é muito comum”, frisou.
"Portugal é um país pobre, profundamente desigual, sem igualdade de oportunidades"
"Quando olho para a sociedade portuguesa há uma característica, uma nota, um traço persistente com o qual não me conformo nem nunca me conformarei, ao qual não me resigno nem me consigo resignar. Por muito que nos custe, Portugal é ainda uma sociedade aristocrática, tipicamente elitista com grande resistência à mobilidade e à ascensão social, com elevados níveis de reprodução e ampliação das elites, das elites de todo o tipo, económicas, sociais, culturais. Estes circuitos de reprodução de elites passam pelo seu fechamento, pela sua promiscuidade, pela sua endogamia, pela alimentação de clientelas, pelo fomento da cultura, da cunha, da cumplicidade, do compadrio. Portugal é um país pobre, profundamente desigual, sem igualdade de oportunidades, onde o elevador social só funciona para pessoas com capacidades excecionais, mas não serve as cidadãs e os cidadãos que arrancam dos níveis mais baixos da sociedade e que têm a média das capacidades", descreveu o candidato.
Perante este cenário, Paulo Rangel elege a mobilidade social como “o grande desígnio” do partido, acusando o “PS socratista e costista” de terem agravado as desigualdades nos últimos 20 anos.
“É preciso romper com este ciclo infernal da estratificação ou do imobilismo social. Não restem dúvidas para ninguém: o grande desígnio do PSD e de um projeto galvanizador e vencedor para o país só pode ser e será sempre para mim: a mobilidade social. Temos de criar as condições para que todos os portugueses possam subir na vida”, defendeu, na apresentação pública da sua candidatura à imprensa.
“Nos anos 90, dizia-se que Portugal não podia parar, depois de 2000 Portugal parou”, lamentou.
O antigo eurodeputado considerou que as duas últimas décadas foram perdidas, e que “os portugueses vivem em 2021 como viviam em 2000 ou 2001 ou até pior” e Portugal foi ultrapassado por vários países europeus.
“Este tempo desperdiçado que nos estagnou, empobreceu, anestesiou e paralisou teve as suas origens e a sua marca forte no descalabro do PS socratista, mas exponenciou-se nestes seis anos na agenda ideológica, fundamentalista e radical do PS costista, agora refém dos extremos da esquerda”, acusou.
Rangel desafia Costa a ir a eleições em 2023 e vai propor regresso de debates quinzenais
“Nós não temos medo nem receio do PS nem de qualquer líder do PS, por mais história ou sucessos que tenha tido. Digo mais, quando for líder do partido, vou desafiar António Costa a liderar as listas do PS às eleições legislativas de 2023”, afirmou, defendendo que o PSD "não pode continuar à espera da exaustão ou da desistência de António Costa, como se ele, o PS e o seu governo fossem imbatíveis".
O antigo líder parlamentar comprometeu-se ainda a, se vencer as diretas de 04 de dezembro, bater-se pelo regresso dos debates quinzenais com o primeiro-ministro no parlamento.
“Como líder parlamentar que fui, sei bem da importância crucial dos chamados debates quinzenais. São eles que dão centralidade política e mediática ao parlamento, são eles que permitem confrontar o primeiro-ministro com as falhas e as políticas erradas”, disse, considerando “absolutamente incompreensível que a liderança atual do PSD tenha, em conivência com o PS” os tenha abolido.
Para Rangel, tratou-se “de um erro enorme para a República e a saúde da democracia, para o parlamento e para o PSD”.
“Assim que tome posse como líder do PSD, comprometo-me aqui a que a minha primeira medida será propor na Assembleia, o regresso dos debates quinzenais”, assegurou.
Rangel diz que Chega é “limite intransponível”
Questionado pelos jornalistas na apresentação pública da sua candidatura sobre a possibilidade de acordos com o partido liderado por André Ventura, o eurodeputado considerou que “a pergunta está respondida” no seu discurso inicial, onde referiu que a sua candidatura representa “a riqueza ideológica de um partido plural, que vai do centro, centro-esquerda até ao limite intransponível da direita moderada”.
“É evidente que o Chega não faz parte da direita moderada, até falei de limite intransponível”, salientou.
No entanto, desafiou, “essa pergunta deveria ser colocada ao PS e António Costa”, considerando o Chega “o aliado objetivo do PS”.
“Um Chega mais forte permite ao PS perpetuar-se no poder. Para mim, a grande questão hoje na democracia portuguesa é qual é a ligação entre o Chega e o Partido Socialista, que não é transparente. O grande interessado que o Chega possa bloquear soluções no centro-direita é o PS e não é mais ninguém”, frisou.
Quanto a entendimentos com outros partidos, Paulo Rangel apontou o CDS como “parceiro preferencial” e a Iniciativa Liberal como um partido “para dialogar”.
“Dois interlocutores com os quais o PSD liderado por mim estará perfeitamente com capacidade de diálogo, de pontes”, disse.
Depois de criticar o que classificou de “política sistemática de acordos com o PS e o Governo Costa” da direção de Rio, o eurodeputado admitiu que, em certas matérias estruturantes, podem ser necessários entendimentos com os socialistas, dando como exemplos matérias como revisão constitucional ou a eleição de juízes para o Tribunal Constitucional.
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