"Aquilo que determina a nossa opção [contra o Orçamento do Estado] não tem a ver com cálculos eleitorais, em nenhum momento. Se outros o fizerem, acho que estão a prestar um mau serviço ao país, mas, isso, cada um decide por si", defendeu o comunista.
Paulo Raimundo falava numa conferência de imprensa na sede nacional do PCP, em Lisboa, na sequência de uma reunião do Comité Central do partido para analisar os resultados nas eleições europeias de domingo e a "situação política e social".
O dirigente comunista começou por salientar que, "a não ser que haja uma reviravolta muito grande", o PCP não deverá acompanhar "qualquer opção de Orçamento do Estado" para o próximo ano, que será entregue pelo governo minoritário PSD/CDS-PP na Assembleia da República em outubro.
Apesar de o documento ainda não ser conhecido, Paulo Raimundo explicou que a posição do PCP tem por base a avaliação que faz da "política ao serviço dos grandes grupos económicos, clarinha" que acusou o Governo de prosseguir desde que tomou posse, "em que tudo é pretexto para abrir negócio".
Para o dirigente comunista, "é no mínimo arriscado dizer que não vai haver eleições" antes das próximas autárquicas, marcadas para o próximo ano.
"Peço desculpa pela franqueza, mas pouco me importa sinceramente a instabilidade política. Eu acho que essa não é a questão, o que me importa é a instabilidade da vida das pessoas", argumentou.
Segundo Raimundo, o que é conhecido do programa do Governo e do futuro orçamento não trará essa estabilidade "à vida das pessoas".
"Isso não serve, pode servir a alguns, poucos, que vão acumulando à conta dessas opções, ou a alguns que por meros cálculos políticos não querem arriscar, diria assim", afirmou.
Questionado sobre se o PS pode não querer arriscar ir a eleições legislativas antecipadas, Paulo Raimundo respondeu: "Como digo, não falo por outros, mas volto a dizer: quem olhar para a situação do país, enfiar a cabeça na areia e fizer as suas opções em função de cálculos eleitorais está a prestar um mau serviço ao país, aos trabalhadores e ao povo".
Sobre o facto de o Presidente da República ter afirmado hoje, na Suíça, que “para o interesse do país era o ideal” que o Governo tivesse um mandato longo, Raimundo respondeu que "não se pode confundir desejos com apelos".
"Admito que o senhor Presidente tenha o desejo deste governo continuar mas isso é uma coisa, outra é olhar para o país que temos. Independentemente dos anúncios e da máquina de propagada que está montada e bem montada, a realidade da vida das pessoas é que a vida tem vindo a piorar", defendeu.
O secretário-geral comunista foi ainda interrogado sobre o anúncio feito pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, na noite eleitoral das europeias de que a Aliança Democrática (coligação PSD, CDS-PP e PPM) e o Governo português apoiarão uma eventual candidatura ao Conselho Europeu do ex-chefe de executivo socialista, António Costa.
Paulo Raimundo respondeu que não está em causa "a pessoa ou as características ou qualidades da pessoa" mas sim das "opções políticas".
"Por mais capacidades que tenha, e tem, de negociação, António Costa vai negociar no quadro dos partidos que está definido, e o quadro que está definido é este: uma Europa cada vez mais no caminho das multinacionais, cada vez mais no sentido da guerra, do militarismo e do federalismo, que é o contrário a uma Europa dos povos que é o que precisamos", sustentou.
O comunista lembrou o caso de Durão Barroso, que foi presidente da Comissão Europeia entre 2004 e 2014.
"Não quero fazer comparações do ponto de vista pessoal mas nós tivemos uma experiência, que não foi assim há tantos anos, de um português com altas responsabilidades numa instituição europeia e sentimos bem na pele o que é que isso significou, nomeadamente com a intervenção da 'troika' estrangeira em Portugal. Eu percebo a fuga para a frente do primeiro-ministro Luís Montenegro na noite eleitoral sobre essa matéria", salientou.
Contudo, o secretário-geral comunista não se comprometeu com uma posição contra uma eventual candidatura de António Costa: "Vamos ver também como é que as coisas evoluem, nesta fase estamos em mera situação de especulação".
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