“A questão dos salários e a questão dos direitos dos trabalhadores e, neste caso, das trabalhadoras, é uma questão essencial até para a democracia. Não há democracia, não há Abril, sem a igualdade e sem o fim da discriminação das mulheres. Muita coisa ficou por fazer e, aliás, a prova de muita coisa por fazer é tudo aquilo que está por cumprir e não está em concretização. Naturalmente, o Partido Socialista tem responsabilidades nisso”, declarou Paulo Raimundo.

O secretário-geral do PCP falava aos jornalistas no âmbito da manifestação nacional de mulheres organizada pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), que se realizou em Lisboa e que contou com a presença de mais de 1.000 pessoas de várias zonas do país.

Questionado sobre a intervenção do Governo do PS na concretização da igualdade de direitos das mulheres, o líder comunista afirmou que podia “ter ido mais longe”, nomeadamente em termos de discriminação salarial: “Chegámos ao fim desses oito anos, chegámos ao fim, em particular, destes últimos dois [anos], com esse fosso a aumentar e não a diminuir. Portanto, alguma coisa não correu bem”.

Paulo Raimundo destacou a adesão de mulheres nesta manifestação, com “determinação, confiança e audácia”, considerando que “demonstra que os direitos ainda não estão consagrados, como deviam estar. Abril ainda não chegou de facto aos direitos da igualdade, ainda não chegou de facto ao fim da discriminação das mulheres, mas também demonstra que há muita força, há muita determinação, para não permitir que se recue naquilo que foi conquistado”.

“O que precisamos é de avançar e não recuar. Penso que os perigos são muitos, mas a força também é muita para fazer esses direitos se cumprirem na vida, todos os dias”, afirmou.

Sobre os problemas que urgem resolver, o secretário-geral do PCP lembrou a discriminação salarial das mulheres, “que se acentuou em vez de ter diminuído”.

“Não há nenhuma razão para se manter a discriminação salarial. Aliás, bastava apenas cumprir a Constituição: a trabalho igual, salário igual. Ora, sabemos bem que isso não é assim. Qual é a razão para que isso não seja assim? Nenhuma, não há nenhuma razão para isso”, reforçou o comunista.

Paulo Raimundo referiu ainda a necessidade de pôr o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a funcionar “com as condições todas para dar resposta às necessidades das pessoas todas e para responder à interrupção voluntária da gravidez (IVG)”.

Considerando que o direito à IVG “é um problema central” nos dias de hoje, o secretário-geral do PCP defendeu que “não há espaço nenhum, não há condições nenhumas, para andar para trás nessa questão”, sublinhando que é preciso “criar as condições para que o SNS responda, de facto, de norte a sul do país e nas ilhas, em todo o território”.

À margem desta manifestação, o comunista foi questionado sobre o ataque de sexta-feira a uma sala de concertos nos arredores de Moscovo, na Rússia, em que pelo menos 133 pessoas morreram, e que foi reivindicado pelo Estado Islâmico (EI), reiterando a posição de “condenação total do ato terrorista” e deixando uma mensagem de solidariedade e de condolências para a família das vítimas e para o povo russo.

“Esperemos que, rapidamente, dentro dos possíveis, se esclareça cabalmente o que aconteceu”, acrescentou Paulo Raimundo, explicando que há “várias informações e com várias questões”, pelo que “é bom que se identifique quem foi, que é para permitir que no mínimo não volte a acontecer”.