“Tudo isto nos surpreende, porque traduz um procedimento de muito amadorismo nestas questões que têm a ver com a fixação de informação, com a recolha de informação, o que não pode acontecer”, afirmou o presidente da comissão técnica independente, João Guerreiro, em declarações aos jornalistas à entrada de uma audição parlamentar.

Questionado sobre a existência de uma auditoria interna da ANPC aos trabalhos do combate ao fogo de Pedrógão Grande, João Guerreiro disse ter “conhecimento que, na altura, a ministra da Administração Interna tinha pedido para ser realizado este apuramento de responsabilidades”.

“Mas não conhecíamos o conteúdo do relatório”, avançou o representante da comissão técnica independente.

Em relação à informação de que foram “apagados” ou “destruídos” documentos sobre incêndio de Pedrógão Grande, João Guerreiro lembrou que o relatório da comissão técnica independente a este fogo também evocou “alguns procedimentos que eram utilizados e que deviam ser corrigidos, designadamente o facto em concreto da fita do tempo ter sido suspensa”.

“A informação que a fita do tempo colhe ter sido suspensa em determinados momentos nos incêndios de Pedrógão e ter sido retomada umas horas depois, porque a fita do tempo reflete exatamente aquilo que se passa, portanto não é possível suspendê-la e depois voltar a retomá-la daí a umas horas sem se perceber o que é que aconteceu durante aquele período de tempo em que não foi carregada”, declarou o responsável.

Sobre o desaparecimento de documentos, João Guerreiro disse não ter conhecimento de tais factos.

“Temos que ter modalidades de registo de informação e de acesso à informação que sejam fidedignos”, defendeu o representante da comissão técnica independente, lembrando que os relatórios produzidos sobre os incêndios de junho e de outubro de 2017 sublinharam a “ausência de profissionalismo em muitos dos procedimentos que são seguidos hoje em dia” no âmbito dos fogos florestais, sobretudo por parte dos bombeiros e da ANPC.

Neste sentido, João Guerreiro reforçou que a solução para este tipo de ação é a “incorporação de mecanismos profissionais”.

O relatório de uma auditoria interna da ANPC aos trabalhos do combate ao fogo de Pedrógão Grande, em 2017, indica que houve documentos apagados ou destruídos, noticiou hoje o jornal Público.

De acordo com o Público, que teve acesso ao relatório da auditoria feita pela Direção Nacional de Auditoria e Fiscalização da ANPC, a organização inicial do combate ao incêndio teve falhas graves, sendo que os auditores se depararam com a inexistência de provas documentais sobre o trabalho de combate ao fogo.

Segundo os auditores que fizeram o relatório sobre o desempenho dos seus agentes no combate ao fogo de junho de 2017, toda a investigação se deparou com “limitações na obtenção de elementos de prova”, informação que “pode tornar-se vital” para a avaliação posterior, nomeadamente ao nível da responsabilidade disciplinar e criminal.

Em causa, refere o Público, estão todos os documentos que são produzidos no posto de comando de um incêndio, desde os planos de situação aos planos estratégicos de ataque, e todas as informações das três células de qualquer posto de comando (logística, planeamento e operações).

O Governo fez, entretanto, saber que o relatório da auditoria interna da Proteção Civil sobre o fogo de Pedrógão Grande foi enviado em novembro para o Ministério Público e que não escondeu o documento.

Em junho de 2017, os incêndios que deflagraram na zona de Pedrógão Grande provocaram 66 mortos: a contabilização oficial assinalou 64 vítimas mortais, mas houve ainda registo de uma mulher que morreu atropelada ao fugir das chamas e uma outra que estava internada desde então, em Coimbra, e que acabou também por morrer. Houve ainda mais de 250 feridos.