Xavier Viegas, que lidera a equipa do Centro de Estudos Sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra que realizou o relatório “O Complexo de Incêndios de Pedrógão Grande e Concelhos Limítrofes”, foi hoje ouvido, à porta fechada, na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, numa audição pedida pelo CDS-PP.
“Faltou no incêndio de Pedrógão Grande um trabalho de busca e salvamento, de encontro das pessoas que necessitavam de socorro e ajuda, prestação de socorro médico”, disse aos jornalistas o perito, no final da audição.
Xavier Viegas adiantou que “a prestação de socorro médico falhou em boa parte porque faltou essa tarefa de busca e salvamento”, tendo esta tarefa existido em Pedrógão Grande “por iniciativas de populares ou até de alguns agentes de proteção civil”, “mas não de uma forma coordenada”.
Nesse sentido, o coordenador do relatório sobre Pedrógão Grande recomenda que, num incêndio com esta dimensão, seja criado no posto de comando uma parte dedicada à tarefa de coordenação da busca e salvamento e prestação de socorro.
“Coisa que não aconteceu neste incêndio e daí que tenha havido muito sofrimento e eventualmente algumas mortes”, observou.
O deputado do CDS-PP Telmo Correia destacou aos jornalistas que “houve uma falha generalizada sobre as operações de busca e socorro”.
“Houve pessoas que morreram, a poucos metros de outras que foram salvas, com o telemóvel na mão a enviar mensagens para o 112, à espera de serem salvas. Enquanto o combate estava com quem tinha a missão de combater o incêndio, a operação médica estava a cargo do INEM, ninguém tinha a responsabilidade de ir buscar pessoas que estavam caídas no terreno”, disse Telmo Correia.
O deputado do CDS-PP sublinhou ainda que esta audição confirmou que “falhou a previsão em meteorologia, o ataque inicial e a coordenação por inexperiência e os meios no combate ao incêndio de Pedrógão Grande”.
Também o deputado do PSD Duarte Marques afirmou aos jornalistas que “o sistema de salvamento das pessoas não funcionou”, faltando em terra uma entidade que faça esta tarefa do salvamento, tal como existe no mar.
“Ficou claro que nestas épocas de grande tragédia é preciso que os bombeiros se concentrem no fogo, que os médicos tratem das pessoas, mas falta aqui uma parte que tem que ir buscar as pessoas aos locais da tragédia”, disse, sublinhando que falta criar “algum comando” ou “alguma especificidade” para a missão do salvamento.
Duarte Marques disse ainda que “nem tudo está a ser feito para corrigir todas as situações que falharam durante o verão passado”, estando apenas a serem tomadas medidas para colmatar aquilo que correu mal nos dois grandes incêndios de 2017.
Por sua vez, o deputado socialista Fernando Rocha disse aos jornalistas que Xavier Viegas destacou na audição que a estrutura da Proteção Civil, como está organizada, “pode ter dificuldades, perante uma tragédia desta dimensão, em assegurar a busca e salvamento das vítimas”.
Isto porque, adiantou o deputado do PS, o INEM “não pode naturalmente avançar para um teatro de operações em risco, sob pena de pôr em risco os seus operacionais”.
Fernando Rocha sublinhou que tem de existir “no comando uma estrutura concentrada” na busca e salvamento.
A audição foi pedida pelo CDS-PP em dezembro depois de o Governo não ter revelado na íntegra o relatório elaborado pela equipa de Domingos Xavier Viegas. Em causa estava o capítulo seis que relata os pormenores das mortes de cada uma das 64 vítimas mortais.
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