Na povoação de Ramalho, encostada a um pinhal de plantio recente, está a casa de dois irmãos, três pisos de construção humilde, que o incêndio não poupou. Afonso Calhau estava em casa, cerca das 18:30 daquele fatídico dia 17, um dia após o seu aniversário, e o fogo chegou com violência, sem avisar.
As chamas destruíram o telhado da casa, umas das 13 de primeira habitação referenciadas pela autarquia local para receberem as lonas que substituirão, por agora, a cobertura. A intervenção foi hoje realizada por 14 elementos do Corpo de Fuzileiros, integrados na missão da Marinha Portuguesa que desde terça-feira tem em Pedrógão Grande 154 militares em ações de segurança e apoio imediato às populações.
"Era um vento sem explicação, o lume chegou aqui a correr. Pegou aos pinheiros lá no alto - aponta para o topo da moradia - o vento levantou as telhas e os barrotes começaram a arder", disse Afonso à reportagem da agência Lusa.
Sem o irmão por perto - tinha ido ajudar um amigo a tratar dos animais e já não conseguiu voltar a casa - Afonso resistiu ao calor e ao fumo dentro de uma arca frigorífica, na cozinha da habitação.
"Ia-me ficando do coração", conta, ao lembrar a aflição de estar enfiado numa arca frigorífica, coberto de gelo que tirou do congelador do frigorífico e tapado por uma manta encharcada em água.
"De três em três minutos abria um bocadinho a tampa para entrar algum ar, mas era só fumo por todo o lado. E o barulho que o vento fazia, era assustador", relembra Afonso, que recorda também os gritos de uma vizinha de uma casa próxima, a quem não conseguiu acudir.
"Fiquei meia hora na arca, depois vim para a rua, estava tudo a arder e havia muito fumo. Um fumo como nunca vi em incêndio nenhum", argumenta o morador, que trabalha na limpeza de florestas e na serração de madeira para a indústria e teme, agora, ficar desempregado.
Hoje, Afonso e o irmão receberam os militares do Corpo de Fuzileiros "com alegria e alívio": "Foram uns anjos do céu que vieram cá ajudar, eu sozinho não conseguia fazer este trabalho, o telhado desabou", sustenta.
No total, três equipas de Fuzileiros colocaram, na tarde de hoje, quatro lonas, cada uma com 15 metros por 10 metros em três habitações na zona de Vila Facaia e a intervenção nas 13 habitações sinalizadas pela autarquia de Pedrógão Grande deverá estar concluída na terça-feira.
“As pessoas têm reagido muito bem à presença dos Fuzileiros e da Marinha em geral. Nós somos militares, os militares juram defender a sua população e apoiar a sua população, portanto nós só estamos a cumprir com o nosso dever. Mas, evidentemente, para nós, é muito gratificante poder ajudar a nossa população numa situação de emergência e dificuldade", disse à agência Lusa o Comandante Naval vice-almirante Gouveia e Melo.
Adiantou que a presença dos meios da Marinha em Pedrógão Grande estava prevista terminar no domingo, mas essa previsão foi estendida até quarta-feira, podendo ser novamente estendida.
Embora argumente que os militares "estão preparados para enfrentar situações críticas", Gouveia e Melo admite que a dimensão da tragédia nos concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira da Pera não deixou de afetar os homens que comanda.
"Somos pais, somos irmãos, somos filhos, e ver a nossa população a sofrer com um acontecimento que lhes caiu em cima e desestruturou famílias e o suporte económico e financeiro de muitas famílias também é uma coisa que afeta sempre todos nós. Agora, nós temos uma obrigação para com os nossos cidadãos que é fazê-los reagir e olhar para o futuro, e a mensagem neste momento é de conforto e de que temos de reagir e de continuar a viver", enfatizou o Comandante Naval.
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