Para o social-democrata, o relatório de uma auditoria aos trabalhos do combate ao fogo de Pedrógão Grande, que indica que houve documentos apagados ou destruídos, “não altera muito as conclusões que todos nós já tirámos relativamente aos incêndios” de 2017.
“Há responsabilidades fortes das áreas tuteladas pelo Governo relativamente ao que aconteceu nos incêndios, nós todos sabemos isso, agora sabemos mais uma parcela da soma: havia um relatório que ainda identificava mais deficiência e esconde deficiências”, disse Rui Rio, em Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, à margem de uma visita ao Hospital local.
O relatório, hoje divulgado pelo jornal Público, “só vem confirmar a necessidade de o Governo estar muito atento e muito atuante relativamente aquilo que vai ser o próximo verão, para que Portugal não volte a ter semelhante descalabro, caos, como aconteceu em junho e outubro”, acrescentou.
“Qualquer notícia desse género só vem adicionar, confirmar, aquilo que foram as responsabilidades, particularmente graves em outubro, porque já havia a experiência do primeiro incêndio”, concluiu.
De acordo com o Público, que teve acesso ao relatório da auditoria feita pela Direção Nacional de Auditoria e Fiscalização da ANPC, a organização inicial do combate ao incêndio teve falhas graves, sendo que os auditores se depararam com a inexistência de provas documentais sobre o trabalho de combate ao fogo.
Segundo os auditores que fizeram o relatório sobre o desempenho dos seus agentes no combate ao fogo de junho do ano passado, toda a investigação se deparou com “limitações na obtenção de elementos de prova”, informação que “pode tornar-se vital” para a avaliação posterior, nomeadamente ao nível da responsabilidade disciplinar e criminal.
Em causa, refere o Público, estão todos os documentos que são produzidos no posto de comando de um incêndio, desde os planos de situação aos planos estratégicos de ataque, e todas as informações das três células de qualquer posto de comando (logística, planeamento e operações).
“Não foi possível aceder a um único SITAC [quadro de situação tática], a um único Quadro de Informação de Células, ou a um PEA [Plano Estratégico de Ação]", lê-se no documento citado pelo Público.
"Todos estes documentos haviam sido apagados dos quadros das VCOC e VPCC [viaturas de comunicação], ou destruídos os documentos em papel que os suportaram", é ainda referido.
De acordo com o jornal, no relatório é adiantado que houve uma total desorganização no combate inicial ao incêndio, que esteve sob responsabilidade do comandante dos bombeiros de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut.
No documento é também referido que nas primeiras três horas do fogo, é descrito um caos, com demora na chegada de veículos de comunicação e na sua localização, por não haver rede no local inicial, e passagens de trabalho por via informal.
Terão ainda sido notadas discrepâncias nos relatos sobre o momento em que foram distribuídas as responsabilidades pelas células de combate e sobre quando foi feita a setorização do teatro de operações.
A mesma notícia indica que o relatório, pedido pela então ministra Constança Urbano de Sousa, foi recebido já pelo atual responsável da pasta – Eduardo Cabrita – em meados de novembro, mas este nunca o divulgou.
Esta manhã, o Governo afirmou que o relatório da auditoria interna da Proteção Civil sobre o fogo de Pedrógão Grande foi enviado, em novembro, para o Ministério Público e que não escondeu o documento.
“É falsa a informação de que o Governo tenha ‘escondido’ o relatório desde novembro”, afirma o Governo em comunicado, referindo estar a esclarecer uma notícia do jornal Público com o título “Inspeção revela que houve provas do combate ao incêndio que foram apagadas ou destruídas”.
Segundo o Ministério da Administração Interna, os documentos em causa “foram remetidos ao Ministério Público, junto da comarca de Leiria, no dia 20 de novembro, para efeitos de investigação, estando assim abrangidos pelo segredo de justiça”.
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