Na estrada 236-1, seis meses depois daqueles fogos que mataram 66 pessoas, já não há imagens de carros calcinados na estrada ou à beira dela, antes um tapete novo de alcatrão nos locais onde os veículos arderam. Apesar disso, nas bombas de gasolina de Castanheira de Pera, ainda se ouve a pergunta: ‘Onde fica a estrada 236-1?'.
"Todas as semanas perguntam pela estrada", conta Francisco Calado, que trabalha no posto de abastecimento.
A uns bons quilómetros dali, já em Figueiró dos Vinhos, no café Retiro IC8, o movimento é pouco e as perguntas de pessoas de fora em torno da estrada e do incêndio já quase que não se ouvem, conta Manuela da Conceição.
No entanto, pelo café que as chamas rodearam, as conversas dos locais ainda giram em torno dos fogos. "Falam do que aconteceu e de como as coisas ficaram", disse Manuela à agência Lusa.
As perguntas em torno dos fogos ainda surgem, mas "de forma mais residual", explica Renato Antunes, gerente do restaurante da aldeia de xisto de Casal de São Simão.
Sempre que "há espaço para conversa", o primeiro assunto é em torno do fogo.
"Ainda temos gente que vem e é a primeira coisa que pergunta. Querem ouvir a história", afirma Renato, que admite que muitas vezes tenta "cortar a conversa e dizer que isso já passou, que agora é para ir para a frente".
Para o gerente do restaurante, "é cansativo estar a repetir" a história e voltar a ver uma espécie de "minifilme" do que se passou.
"No verão, era mais frequente. Iam à praia e a outros locais e era mais comum passarem pela estrada", refere o ex-administrador da Praia das Rocas, em Castanheira de Pera, José Pais, sublinhando que a dimensão do que ardeu para quem entra no IC8 em direção a Pedrógão Grande "impressiona".
Também em Vila Facaia, num café ao lado da igreja, perguntas pela estrada 236-1 continuam a ser ouvidas, assim como indicações para Nodeirinho, uma das aldeias mais mediatizadas aquando do incêndio, onde várias pessoas se salvaram dentro de um tanque de água.
"Ainda hoje perguntam pela estrada e por Nodeirinho e Pobrais", conta à Lusa Vanessa Varejão, que trabalha no café.
Normalmente, explica, quem pergunta traz ajuda para as pessoas. Se no início, vinham carrinhas carregadas de bens materiais, hoje vêm oferecer a sua mão-de-obra para pequenas replantações ou reconstruções.
"Já não é com a mesma regularidade. Na primeira semana após o incêndio foi desgastante. Estavam constantemente a perguntar pela estrada", sublinha Vanessa.
Apesar de agora o ambiente ser mais calmo, também Vanessa diz que já chega de perguntas.
"Sinceramente, cansa. Isto nunca se vai esquecer, mas estão sempre a falar da mesma coisa, sempre a relembrar o que se passou e as pessoas não precisam de perguntas para se relembrarem. É impossível esquecer", sublinha a jovem de 27 anos.
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