Ana Simões, coordenadora distrital de Faro do Sindicato dos Professores da Zona Sul, disse à Lusa que, no Algarve, “devem estar em falta muitos professores, que correspondem a entre 200 a 250 turmas, o que significa que há 5.000 a 6.000 alunos" sem algum professor, desde o pré-escolar até ao ensino secundário.

“Temos falta de professores de Geografia, Educação Física, Francês, Educação Tecnológica, Informática, Inglês, Físico-Química, portanto, são muitas disciplinas e estamos a falar em alguns destes horários completos e anuais”, precisou a dirigente sindical.

Ana Simões reportou a existência de casos em que “foram feitas três colocações” para um horário, mas nenhum professor cobriu a vaga, ou em que houve horários que “nem sequer foram ocupados desde o início do ano letivo”, há pouco mais de um mês.

A mesma fonte revelou que está em curso até “final da próxima semana” um levantamento rigoroso sobre o número de professores em falta na região, apontando duas causas para o problema: um relacionado com a perda com as condições laborais e atratividade da profissão, e outro com o custo de vida e a dificuldade em pagar casa quando se vai de outra zona do país para o Algarve.

“A desvalorização que tem sido feita junto da opinião pública, as condições de trabalho que os professores têm, com horários sobrecarregados, o aumento da idade de aposentação, o desgaste que têm, a questões da carreira, também, tudo tem levado a que a profissão de docente não seja atrativa para os jovens”, argumentou.

A mesma fonte considerou ainda que o “elevado custo de vida na região” faz com que “muitos professores, concorrendo desde o norte para horários no Algarve, por vezes incompletos”, tenham salários que “não dão para pagar casa, comer e deslocar-se para o trabalho”, acabando por desistir das vagas.

Ana Simões reconheceu que este é um problema que “não afeta só os professores, mas todos os cidadãos”, e que “mesmo quem mora no Algarve tem dificuldade em alugar casas, porque há pouca oferta e a que há tem custos difíceis de suportar”, defendendo a rápida revisão das “medidas de fundo de política educativa”.

Um dos concelhos mais afetados no distrito de Faro é o de Alcoutim, no interior nordeste da região, dificuldade que tem sido testemunhada pelo presidente da Câmara, Osvaldo Gonçalves, que deu o exemplo de uma filha e dos colegas de turma, que “não tiveram inglês no 9.º ano”, sentindo “dificuldades quando foram fazer o secundário” e vindo depois a precisar dessa disciplina para entrar na universidade.

“Estes problemas, mais tarde ou mais cedo, teriam que se agudizar, e aos problemas da classe [profissional] juntam-se os problemas do território, estamos aqui a criar um ‘cocktail’ de dificuldades que, no limite, irá prejudicar o ensino e terá um impacto muito grande nos territórios do interior”, afirmou.

O autarca considerou que, caso não haja “uma mudança e uma alteração em relação a algumas políticas e a sistemas de incentivos”, como a criação de casas para alojar professores no concelho, as dificuldades aumentarão e “qualquer dia, não há é professores”.

“Em Alcoutim há alunos sem Inglês, Físico-Química, e apesar de todo o trabalho e energia de quem está na escola, eles não conseguem fazer professores”, lamentou, apelando à adoção de incentivos para a fixação de docentes no interior.

A Lusa tentou obter, sem sucesso, uma posição da tutela, quer junto da Direção Geral de Estabelecimentos de Ensino quer do próprio ministério da Educação.