Os suspeitos, dois seguranças que prestavam serviço ao Carrefour e quatro funcionários do supermercado, foram acusados de homicídio triplamente qualificado, denominação dada para assassínios cometidos por motivo torpe agravado, neste caso, pela prática de asfixia da vítima.

A autoridades brasileiras afirmaram que as provas recolhidas na investigação indicaram exagero nas agressões impostas pelos seguranças do Carrefour contra a vítima, um homem negro de 40 anos.

João Alberto Freitas foi até ao supermercado para fazer compras e se desentendeu com alguns funcionários, tendo sido levado pelos seguranças até ao estacionamento, onde acabou espancado e asfixiado até à morte diante de testemunhas, em 19 de novembro.

De acordo com a polícia brasileira, os depoimentos mostraram que houve indiferença dos funcionários às ações cometidas contra a vítima.

A morte brutal do homem chocou o Brasil e desencadeou uma onda de manifestações antirracistas em várias cidades do país.

Não houve indiciamento dos suspeitos por racismo, mas a delegada responsável pela investigação, Roberta Bertoldo, disse ao portal de notícias G1 que a polícia fez uma análise conjuntural de todos os aspetos probatórios e doutrinários envolvidos no crime, concluindo: “O racismo estrutural, que são aquelas conceções arraigadas na sociedade foram sim, fundamentais, no determinar da conduta dessas pessoas naquele caso”.

Apesar de os negros representarem 56% da população do Brasil, os casos de racismo são recorrentes e graves no país.

O Atlas da Violência, levantamento elaborado a partir de uma parceria entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Instituto de Económica Aplicada (Ipea) que recolhe e analisa números produzidos pelo Governo brasileiro, indicou que em 2018 (dado mais atualizado) os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios praticados no Brasil.

Os negros brasileiros têm maiores taxas de desemprego, representam a maior percentagem da população dentro da força de trabalho precária e tem piores condições de vida se comparados com a parcela da população branca.

Segundo o estudo “Síntese de Indicadores Sociais”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego registada no mercado de trabalho do Brasil em 2019 foi de 9,3% para brancos e de 13,6% para negros.