“Estamos convencidos de que a decisão de proibir esta manifestação foi tomada pelo Governo de Carrie Lam e por Pequim, seguindo a estratégia de silenciar os protestos nas ruas de Hong Kong antes e durante o Dia Nacional da China”, acusou Bonnie Leung, vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), que representa pelo menos 15 partidos e organizações não-governamentais.

Segundo uma estimativa da própria associação, a FCDH foi responsável pelas manifestações que levaram à rua um milhão de pessoas a 09 de junho, dois milhões a 16 de junho e 1,7 milhões a 18 de agosto, sendo que esta última havia também sido proibida pela polícia.

“Temos procurado promover protestos pacíficos, sempre de acordo com a lei, mas esta já é a terceira manifestação proibida. As pessoas vão acabar por ir para as ruas, seja como for, o que pode ser ainda mais perigoso”, alertou a ativista.

A razão é simples, para Bonnie Leung: “Por um lado, as pessoas vão acabar por ir à mesma para as ruas. Mas por outro, também percebemos que isto corresponde a uma estratégia das autoridades para depois terem a desculpa para efetuarem as detenções e usarem de violência para com os manifestantes”.

“Eles sabem o quão poderoso pode ser ter milhões de pessoas nas ruas e querem silenciar-nos, mas estão a falhar na tática”, concluiu.

Na quinta-feira, a cinco dias do Dia Nacional da China e na véspera de novos protestos pró-democracia, a chefe do Governo de Hong Kong iniciou uma série de debates com a sociedade civil, mas acabou retida durante quatro horas.

Carrie Lam estreou a plataforma de diálogo a partir do qual o Governo de Hong Kong pretende apaziguar a tensão social e política que se vive no território desde 09 de junho, mas foi confrontada com críticas durante as duas horas da iniciativa.

A comitiva governamental acabou por abandonar o local apenas quatro horas após o final da sessão, por razões de segurança, de forma a evitar os manifestantes que se posicionaram nas ruas vizinhas ao estádio que acolheu a iniciativa.

Com o aproximar das celebrações dos 70 anos da fundação da República Popular da China, agendadas para 01 de outubro, os protestos prometem intensificar-se este fim de semana nas ruas de Hong Kong.

O mais importante deverá acontecer no sábado à noite, promovido precisamente pela FCDH.

O Governo de Hong Kong anunciou a retirada formal das emendas à polémica lei da extradição que esteve na base da contestação social desde o início de junho.

Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”.

Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.