“Para a adequada instrução das investigações, mostra-se necessária a realização da oitiva [audição] do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, a respeito dos factos apurados”, afirmou a Polícia Federal, num comunicado enviado ao juiz do STF Celso de Mello, citado pela imprensa brasilira.
A Polícia Federal pediu ainda ao Supremo mais 30 dias para concluir o inquérito que apura se o chefe de Estado tentou efetivamente interferir na instituição.
Em causa está um inquérito aberto em abril pelo STF, a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, após o ex-ministro da Justiça Sergio Moro ter acusado Jair Bolsonaro de “interferência política na Polícia Federal”, na sequência da demissão do ex-chefe daquela instituição Maurício Valeixo.
Moro, que além das acusações apresentadas na demissão, afirmou que Bolsonaro exonerou a liderança da Polícia Federal porque pretendia ter acesso às investigações judiciais, algumas das quais a envolver os filhos ou aliados.
“O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse ligar, [de quem] ele pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente”, declarou Moro, quando pediu a demissão no final de abril.
No início de maio, o procurador-geral do Brasil pediu a audição de ministros e o registo de reuniões de Governo, para apurar as acusações de Moro.
Além de Sergio Moro, Augusto Aras entendeu ser necessário ouvir os ministros da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Augusto Heleno, e da Casa Civil, Braga Netto, “para o esclarecimento dos factos”, assim como a deputada federal Carla Zambelli, aliada de Bolsonaro e mencionada nas alegadas provas apresentadas pelo ex-ministro da Justiça.
Foi também pedida a audição dos delegados da Polícia Federal Maurício Valeixo, Ricardo Saadi, Carlos Sousa, Alexandre Saraiva, Rodrigo Teixeira e Alexandre Ramagem, para que prestassem informações acerca de “eventual patrocínio, direto ou indireto, de interesses privados do Presidente da República perante o Departamento de Polícia Federal, visando o provimento de cargos em comissão e a exoneração de seus ocupantes”.
Agora, a Polícia Federal considera necessário ouvir também Jair Bolsonaro, principal visado no inquérito.
A Polícia Federal é um órgão autónomo, subordinado ao Ministério da Justiça, embora o diretor seja nomeado pelo Presidente da República.
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