“A dignidade laboral é aquilo que em Paços de Ferreira a Polícia Municipal não vive”, disse à agência Lusa o vice-presidente do Sindicato Nacional das Polícias Municipais (SNPM), Marco Santos.

Falando junto aos Paços do Concelho, acompanhado por vários agentes daquela força policial que envergavam coletes amarelos com a expressão “Dignidade Laboral”, o sindicalista referiu que a situação é a mais grave do país: “Preocupa-nos que estes homens, sendo polícias e agentes de autoridade, não vivam o dia a dia com tranquilidade para ajudar a resolver os problemas dos pacenses”.

Marco Santos observou que a greve “nada tem a ver com questões económicas”. A forma como é exercido o comando é a principal queixa, referindo que os agentes recebem indicações da responsável da polícia através de e-mail ou por mensagens enviadas para os telemóveis.

“Por vezes, tomam conhecimento da escala a menos de 24 horas do serviço”, indicou, acentuando: “Estamos aqui como um grito de revolta e queremos ver esses problemas resolvidos”.

Para o SNPM, é “grave” não haver por parte da câmara abertura para resolver os problemas.

“Apesar de sucessivos pedidos de reuniões, não vemos meios para conseguir resolver os problemas. Há uma total ausência de resposta do executivo”, referiu, insistindo nunca terem sido “contactados depois do pré-aviso de greve para a tentativa de resolver os problemas”.

“Lamentamos isso, porque estamos a falar de agentes de autoridade, de pessoas que precisam de condição de trabalho para poderem desempenhar bem as suas funções”, sublinhou.

Aludiu, depois, à degradação que se tem observado no serviço, recordando que a PM de Paços de Ferreira, que foi das primeiras a ser criadas no país, começou com 20 agentes em 2000, mas esse número foi diminuindo até aos atuais 10 elementos operacionais. Desses agentes, dois encontram-se de atestado, referiu, anotando que também estão solidários com a greve de hoje.

Amílcar Brito, delegado sindical e agente da PM em Paços de Ferreira, confirmou à Lusa a situação de insuficiência de meios, reforçando que a situação tem colocado diversos problemas, inclusive na segurança dos agentes e dos eventos para os quais são convocados. Referiu, a propósito, que tem havido situações em que apenas um agente é destacado para um evento desportivo ou para ordenar o trânsito numa procissão.

Aquele agente recordou que, além do protesto de hoje, outra greve decretada em maio, às horas extraordinárias, ainda está em vigor, porque, criticou, as reivindicações de trabalhadores não obtiveram resposta do município.

Amílcar Brito acrescentou a degradação dos equipamentos, nomeadamente das viaturas e das armas atribuídas aos agentes.

Segundo sinalizou, aquele material remonta aos primeiros anos de funcionamento da PM de Paços de Ferreira, ou seja, tem “muitos anos de uso”.

Questionado sobre o futuro do corpo da polícia municipal naquele concelho depois da greve de hoje, lembrou que se realizou, na quinta-feira, uma reunião com a entidade patronal.

“Ficámos, inicialmente, muito confiantes no futuro da Polícia Municipal, mas ficámos com um sentimento de revolta quando saímos da reunião e disseram, perentoriamente, que a acontecer a greve de hoje o futuro da polícia municipal passaria pelo horário rígido das 09:00 às 17:00″, concluiu.

A Lusa pediu à Câmara de Paços de Ferreira uma posição sobre a greve e as queixas dos agentes, mas não obteve resposta até ao momento.