Desde 8 de outubro que não há cirurgia de urgência naquela unidade hospitalar por causa da escusa dos médicos a mais horas extraordinárias além das 150 previstas na lei.

Os recursos humanos estão a ser concentrados no hospital de Bragança, capital de distrito, para onde são encaminhados os doentes, a cerca de 60 quilómetros de distância.

Entre os manifestantes que empunhavam cartazes onde se lia, por exemplo, “é urgente ter urgência cirúrgica”, “+ de 60km não é opção” ou “a emergência não espera”, estava Irene da Conceição, de 79 anos, antiga funcionária da limpeza do hospital.

“Já tiraram a maternidade, já tiraram as cirurgias para Bragança… Acho mal o que está a acontecer”, disse à Lusa.

E deu um exemplo: “Eu sou mesmo daqui, sinto-me mal, preciso de uma urgência, não vão as ambulâncias para outros lados. É aqui! Toda a vida foi aqui!”, enfatizou.

Com Irene estava Rosa Simão. “Faz falta a parte da cirurgia aqui em Mirandela. Porque ir daqui a Bragança é muito longe e podem-se perder vidas. 60 quilómetros podem fazer a diferença.”, afirmou quando questionada sobre o motivo que a levou a juntar-se à manifestação.

Carla Serrano é auxiliar no hospital, na parte da Medicina Interna. Hoje juntou-se aos utentes. “Acho que a união faz a força e é inadmissível tirarem um serviço que faz muita falta a Mirandela e arredores. Vamos ver se conseguimos alterar alguma coisa. E é um sítio estratégico, onde faz falta”, justificou.

Sónia Costa foi outras das manifestantes, porque não quer que “haja o encerramento”. “A nós aqui tiram-nos tudo, infelizmente”, lamentou à Lusa.

Junto ao hospital foi instalado um pequeno palanque com um sistema de som, de onde foi lido um manifesto sobre os motivos do protesto, com palmas e vivas de quem ouvia.

Além do regresso imediato da cirurgia de urgência, pede-se, entre outros, a criação de um centro materno infantil, o reforço das equipas médicas ou o aumento dos meios de emergência pré-hospitalar.

Depois, os participantes caminharam de mãos dadas na envolvente do hospital e de parte do edifício, onde terminou a manifestação.

Algumas entidades locais, como o Moto Clube de Mirandela ou os escuteiros também marcaram presença.

O hospital de Mirandela faz parte da Unidade Local de Saúde do Nordeste. Tem como principal área de abrangência o sul do distrito de Bragança. Além de Mirandela, serve Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Torre de Moncorvo e Alfândega da Fé. Segundo os últimos censos, estes concelhos transmontanos têm cerca de 44 mil habitantes.