A organização fundamentalista, que perde terreno na Síria e no Iraque, esforça-se para impedir que milhares de voluntários estrangeiros, que se uniram ao grupo em 2014, fujam das terras do califado.
Nem todos querem ir embora pelos mesmos motivos. Às vezes tomam a decisão por medo de ataques aéreos, por deceção em relação ao que tinham imaginado, pela corrupção dos líderes locais, pelas ações violentas contra os muçulmanos sunitas ou simplesmente por tédio. É o que conclui um estudo do International Centre for the Study of Radicalisation (ICSR) do King's College de Londres, realizado a partir de uma amostra de 58 desertores.
"Percebem que a fase final começou, muitos estão a enviar-nos mensagens para se informarem sobre como regressar", declarou à AFP o coordenador nacional dos serviços secretos em França, Didier Le Bret. "Já não se trata da expansão do glorioso califado, e sabemos que alguns morrem quando tentam fugir", acrescentou.
"Como os serviços de segurança do EI são muito desconfiados, ficamos preocupados quando alguém chega: como ter a certeza de que são sinceros e não estão em missão?", questiona Didier Le Bret.
Segundo o diretor-geral da segurança interior francesa (DGSI), Patrick Calvar, em meados de maio "244 pessoas voltaram para França a partir da zona síria-iraquiana", acrescentando que "assistimos a uma maior intenção de retorno, dificultada pela política do Daesh: quando querem deixar a Síria, são considerados traidores que têm de ser executados imediatamente".
"Massacres porque sim"
Desde janeiro de 2014, antes da proclamação oficial da criação do califado, o ICSR criou uma base de dados com entrevistas realizadas com desertores do EI para tentar entender os seus motivos.
"Os motivos pelos quais fugiram são tão complexos como os que os levaram a partir", escreve num relatório Peter Neumann, diretor do ICSR. "Eles não se converteram em partidários fervorosos da democracia ocidental. Alguns cometeram crimes".
"Nos seus relatos repetem-se quatro críticas : 'O EI concentra-se mais em combater outros muçulmanos do que o governo de Assad, o EI comete atrocidades contra muçulmanos, o EI é corrupto e não segue os preceitos do Islão, a vida sob o jugo do EI é dura e decepcionante'", acrescentou Peter Neumann.
Shiraz Maher, membro do ICSR e um dos investigadores que interrogou os desertores explicou que "a maioria deles diz-nos: 'Não viemos para isto'", acrescentando que "um deles afirmou: 'Gostaria de dizer a todos os mujahedines que não se dirijam à Síria. A jihad não é isto. Vai acabar por matar os muçulmanos".
Alguns foram por impulso, às vezes convencidos de que iriam unir-se a uma utopia, a uma sociedade ideal regida pela sharia; outros procuravam adrenalina, camaradagem. Mas os aprendizes de jihadistas acabam, segundo relatos dos próprios, imersos na violência, na barbárie, no medo, nas privações, no tédio, na incompreensão e na discriminação em função do seu país de origem. "Um deles disse-me" - lembra Shiraz Maher - "que os chefes do EI não hesitarão em destruir um edifício, com mulheres e crianças no interior, para matar apenas uma pessoa. Não é a jihad revolucionária, é simplesmente um massacre".
Um combatente indiano resume: "A Jihad não é isto. Até me fizeram limpar as casas de banho...'".
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