A passagem dos navios foi registada a cerca de 400 quilómetros a sul da ilha, na quarta-feira, horas antes de Tsai Ing-wen se reunir em Los Angeles com Kevin McCarthy. A China considera qualquer contacto oficial entre líderes de Taiwan e autoridades estrangeiras como uma violação da soberania.

Em comunicado, o Ministério da Defesa de Taiwan indicou que o porta-aviões Shandong foi detetado ao passar pelo canal Bashi – entre Taiwan e as Filipinas – em trânsito para o Pacífico oriental, onde deve iniciar as primeiras manobras de longo alcance.

O Shandong é o segundo porta-aviões da China, o primeiro fabricado internamente, e entrou o ano passado em serviço.

As autoridades de Taipé denunciaram também uma “operação especial de patrulha”, anunciada esta semana pelo exército chinês, nas águas do estreito de Taiwan.

Taipé descreveu as ações chinesas como um “comportamento impróprio de um país moderno e responsável”, informou a agência de notícias oficial taiwanesa CNA.

Até ao momento não se sabe se a instalação do porta-aviões faz parte dessa operação, que começou na madrugada de quarta-feira e cuja duração não foi especificada.

Analistas citados pelo jornal oficial do Partido Comunista Chinês Global Times disseram que a passagem do Shandong “demonstra que o segundo porta-aviões do Exército de Libertação Popular está preparado para operações em alto mar e para salvaguardar a soberania e integridade territorial da China”.

Este tipo de exercício é espectável, uma vez que o porta-aviões só pode testar todas as suas capacidades de manobra com frotas em mar aberto, disse o especialista Zhang Xuefeng.

Outra fonte citada pelo jornal, que pediu para não ser identificada, disse que as águas a leste de Taiwan e a sul do Japão são uma “posição estratégica vital” para cercar a ilha e evitar que forças estrangeiras interfiram militarmente.

O destacamento militar chinês ocorre num período de renovadas tensões entre Washington e Pequim, por conta da escala feita por Tsai nos Estados Unidos, por ocasião da viagem à América Central, e do encontro realizado na quarta-feira com Kevin McCarthy.

A China acusou Washington de “conluio” com a ilha e disse que responderia com “medidas resolutas e eficazes para salvaguardar a soberania e a integridade territorial”.

Os EUA pediram ao país asiático que “não reaja de forma exagerada” à reunião.

Nos últimos anos, as incursões de jatos da Força Aérea chinesa no espaço aéreo de Taiwan intensificaram-se e, após a ex-presidente da Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, se deslocar a Taiwan, em agosto passado – a visita de mais alto nível realizada pelos Estados Unidos à ilha em 25 anos – Pequim lançou exercícios militares numa escala sem precedentes, que incluíram o lançamento de mísseis e o uso de fogo real.

O Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou já que a reunificação de Taiwan não pode continuar a ser adiada.

A relação entre a China e os EUA deteriorou-se nos últimos anos, face a uma prolongada guerra comercial e tecnológica e diferendos em questões de direitos humanos, a soberania do mar do Sul da China ou o estatuto de Hong Kong.

Os Estados Unidos são o maior fornecedor de armas de Taiwan e seriam o principal aliado no caso de uma invasão chinesa.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso Taipé declare formalmente a independência.