Na obra “Santos e Milagres. Uma História Portuguesa de Deus”, o autor, licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, argumenta que a História de Portugal sempre se norteou pela religião católica.
“Somos, é claro, o país de Fátima, que determinou o discurso da Igreja no século XX e colocou Portugal no centro das peregrinações mundiais”, afirma o autor, referindo as trilogias “Deus, Pátria e Família” e “Fado, Fátima e Futebol”, sublinhando, “um terço da equação [é] reservado para a fé”.
A história do país está interligada com o exercício do catolicismo, defende o autor que cita diversos factos, desde a fundação do país, que demonstram, na sua opinião, "a indissociável” ligação entre Portugal, a sua identidade e o cristianismo.
“Foram os arcebispos de Braga a organizar o encontro entre D. Afonso Henriques e o rei de Leão e Castela para a assinatura do Tratado de Zamora, e quem negociou depois a independência portuguesa perante o papa”, escreve o autor.
E assinala terem sido os Templários quem ajudou na conquista de território nacional até ao Algarve, que a primeira bandeira nacional ter sido uma cruz azul sobre fundo branco, “como a dos Cruzados”, e sublinha que, em 1385, foi Nuno Álvares Pereira, atual São Nuno de Santa Maria, foi aquele que garantiu a independência nacional.
Refere o investigador que Álvares Pereira usava, como bandeira, uma cruz vermelha sobre fundo branco, “como a de S. Jorge”, e prossegue: “Andámos por todos os mares do mundo identificados com uma enorme cruz de Cristo desenhada nas velas. E hoje mesmo” – prossegue -, na bandeira portuguesa “estão lá cinco escudetes representando os cinco reis mouros que teriam sido derrotados por Afonso Henriques na batalha de Ourique, cada um carregando cinco besantes” que representam “as chagas de Cristo crucificado que terá aparecido a Afonso antes do combate”.
Todavia, apesar desta ligação, o autor adverte que, “ao longo da história, tivemos muitas vezes péssimas relações com a hierarquia oficial da Igreja”, o que, em seu entender, é “um sinal interessante” de uma “certa forma muito própria de viver a religião”.
Quanto à obra, Alexandre Borges estruturou-a em cinco partes. Numa primeira, reúne “as vidas dos santos mais evidentemente conotados com a afirmação da identidade portuguesa”. São eles, São Teotónio, Rainha Santa Isabel, Santo António e São Nuno de Santa Maria.
Na segunda e na terceira partes, encontram-se “as histórias dos mártires e dos monges que nos mostram os antecedentes e explicam porque Portugal surgiu quando surgiu e como surgiu”.
A quarta parte, “O Tempo do Mundo”, destaca o esforço missionário português no Brasil, em África, nas partes do Oriente, um período em que a estratégia nacional se pode sintetizar no lema “frade, forte e feitoria”.
Finalmente, a quinta parte, “O Tempo de Agora”, é dedicada a Fátima, que, “com a sua enorme carga de religiosidade popular, impôs-se a Portugal, ao mundo e à própria Igreja oficial; independentemente de que cada um possa pensar acerca dos acontecimentos originais, o fenómeno é indiscutível”, atesta.
Das 16 histórias que o livro regista, de fora ficam, alerta o autor, “’santos' não oficiais, como a Santa da Ladeira e o Dr. Sousa Martins, ou ainda Frei Bartolomeu dos Mártires, S. José do Sri Lanka, St.ª Beatriz da Silva, a imperatriz Isabel de Portugal, mulher de Carlos V, de Espanha, João Baptista Machado, e o Infante Santo D. Fernando".
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