Numa altura em que a presidência da União Europeia (UE) é assumida pela Finlândia, o tema da sustentabilidade ambiental foi colocado na agenda comunitária, com Helsínquia a querer uma região mais ‘verde’, mas os planos do país – e deste emigrante – não são de agora.
Pensada desde 2017, a primeira casa comunitária desenhada por Pedro Aibéo, que estará instalada num edifício centenário, começa agora a ganhar forma, com as obras no edifício a arrancarem no final deste ano para estarem prontas no terceiro trimestre do próximo.
Apesar de ainda não ter saído do papel, o projeto “Gamified Cohousing” já atraiu olhares estrangeiros, tendo Pedro Aibéo recebido convites para apresentar o projeto na exposição internacional de arte Bienal de Veneza, em Itália, e no museu nacional de arquitetura da Rússia, avança o próprio à agência Lusa, em Helsínquia.
Foi, aliás, a partir do “sonho de renovação de edifícios velhos e de preservação do património” que surgiu o “Gamified Cohousing”, que vai dar nova vida a uma antiga escola primária localizada na cidade de Lohja, a cerca de 50 quilómetros da capital finlandesa, considerada património protegido.
Mas apesar de o sonho comandar a vida, neste caso, foi também a realidade do setor da construção que fez este portuense, de 39 anos, apostar no ‘cohousing’.
“O maior motor das cidades é a construção, é 30 vezes mais do que o mundo dos computadores e é o que consome mais recursos naturais, mas se paramos isso, paramos toda a economia”, observa.
Por isso, “se calhar deveríamos abrandar e arranjar uma forma de equilibrar [o setor], o que passa por renovar os edifícios que estão vazios”, sugere.
Ao mesmo tempo, “devemos pensar na parte de as pessoas não falarem umas com as outras”, destaca o também investigador e professor universitário, indicando que é aí que entra o “Gamified Cohousing”.
“Temos de recuperar o sentido de comunidade local para reagir aos problemas globais. Nisso, os arquitetos têm uma função preponderante. Depois é descobrir a forma mais perfeita de fazer as ‘cohousing’: mais modernas e mais flexíveis”, assinala Pedro Aibéo.
Em tom irónico, o arquiteto português rejeita que as casas comunitárias sejam, hoje em dia, apenas dirigidas a quem segue um estilo de vida mais alternativo.
“Não queremos ser nenhuns ‘hippies’, mas queremos tentar criar um modelo para outros aplicarem, por isso é que não só estamos a fazer a recuperação de edifícios velhos, com uma renovação minimalista, mas também a aplicar uma gestão inteligente de instalações através de uma aplicação móvel”, sistema esse que estipula regras e tarefas para os habitantes dessa casa, explica o arquiteto à Lusa.
Nesta primeira casa comunitária, estão em causa cerca de mil metros quadrados, 40% dos quais são destinados a infraestruturas comuns.
Previstos estão, então, cinco apartamentos privados com 40 ou 160 metros quadrados, aos quais se juntam espaços partilhados de maior dimensão, como um sótão para escritório de 200 metros quadrados, cozinha, armazém e ainda dois quartos para convidados.
Questionado sobre o público-alvo deste projeto, Pedro Aibéo fala em pessoas “a partir dos 30 anos”, que tenham, por exemplo, o hábito de trabalhar de forma remota ou que não queiram estar sozinhas.
Se correr bem, a ideia deste arquiteto português é replicar o projeto noutras zonas do mundo, para as tornar mais ‘verdes’ e sociáveis.
* Ana Matos Neves, enviada da agência Lusa
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