Teresa Pais, mais conhecida do público por ter participado num reality show e, mais recentemente, por partilhar as suas viagens nas redes sociais, foi expulsa de um voo da companhia aérea norte-americana low cost, Spirit Airlines, por vestir um top curto.

Contactada pelo SAPO24, a portuguesa, de 34 anos, que vive nos Estados Unidos da América (EUA) há cinco, conta que, na passada sexta-feira, tinha um voo marcado de Los Angeles para Nova Orleães, onde ia celebrar o aniversário de uma amiga, que viajava consigo.

“Chegámos ao aeroporto por volta das 11h30, tomámos o pequeno-almoço, passámos a emigração e estava tudo bem”, começa por explicar. “Eu estava vestida, como disse no vídeo, com umas calças de ganga, um crop top e um casaco, e a minha amiga estava muito parecida, mas com umas calças de tecido”, continua.

“Passámos pela segurança, ninguém disse nada. Passámos pela porta de embarque, fizemos o scan do bilhete e entrámos dentro do avião. Estavam três comissárias de bordo, que, como o normal, apenas disseram ‘bem-vindas’”, refere Teresa.

No entanto, “estávamos a chegar ao nosso assento e o único homem que era comissário no voo, num tom rude, manda-me vestir o casaco", diz.

A portuguesa explica que, ao início, não percebeu e questionou o comissário, que lhe disse: “Veste o casaco agora!”, conta.

Já nervosa, Teresa sentou-se e vestiu o casaco. No mesmo instante, o homem, que já se tinha afastado, chega perto das duas e diz: “A tua amiga também!”.

De imediato, começaram a pesquisar na internet o dress code daquela companhia aérea, informação que não encontraram.

Momentos mais tarde, quando o comissário voltou a passar pelos lugares de ambas, Teresa questionou o porquê de ter de vestir o casaco, pergunta à qual o homem respondeu: “Vou chamar a minha supervisora e falas com ela”.

Nesta altura, já outros passageiros se tinham apercebido da situação e questionavam o que estava a acontecer, não percebendo qual era o problema com a roupa que as duas vestiam.

Com o calor que se fazia sentir dentro do avião, uma vez que o ar condicionado estava desligado por já estarem na pista para levantar voo, “eu coloquei o casaco nos ombros”, afirma Teresa.

A supervisora, que chegou no entretanto, voltou a referir que tinham de vestir os casacos, ao que a amiga de Teresa respondeu “seja honesta, vê algum problema na nossa roupa?” e a mulher respondeu que não, mas "que o comissário de bordo estava incomodado e ele tinha a decisão executiva”.

“Eu estava completamente estupefacta com o que estava a acontecer, nunca tinha ouvido isto na minha vida”, diz Teresa, que pediu para ver um documento sobre as roupas que não podiam usar dentro do avião. A comissária voltou a chamar o homem, que decidiu: “Isto vai acabar agora, vocês vão sair daqui!”.

Nos minutos seguintes, outros passageiros tentaram chamar a atenção dos comissários, dizendo que Teresa e a amiga não estavam a incomodar ninguém, inclusive, “a senhora da frente, que tinha uma filha de três anos, perguntou qual era o problema e disse que também tinha um top, e tirou a camisola”, conta.

O avião regressou à porta de embarque, depois de uma supervisora da Spirit Airlines garantir que as duas tinham de sair, mesmo depois de perguntarem “e se vestirmos os casacos?”, ou então “chamava a polícia” e “as coisas iam piorar”.

À saída do avião, e já com várias pessoas a filmar, Teresa quis pedir desculpa ao capitão pela situação “porque ele é o único que tem o poder de nos mandar embora”, diz, mas o pedido foi negado pela supervisora, mesmo com outros passageiros a manifestarem intenção de abandonar o voo devido ao ocorrido.

Já no balcão de informações do aeroporto, informaram-nas que, ao contrário do que a supervisora tinha prometido, “quando se é expulso do voo, não se tem direito a qualquer outro voo ou ao reembolso”.

Após tentarem falar com responsáveis da companhia, e sem respostas, dirigiram-se às autoridades presentes no local, que lhes disseram ser “ridículo, e que nunca tinham visto algo assim, já viram até homens dentro do avião sem camisola”, conta Teresa.

Os polícias aconselharam-nas a avançarem com um processo, uma vez que, além de terem perdido o dinheiro e o horário do voo, foram obrigadas a gastar mais mil dólares (cerca de 910 euros) para viajarem para Nova Orleães, desta vez na Delta Air Lines.

Em pleno fim de semana apenas conseguiram fazer queixa online. No entanto, no dia de hoje já tinham uma chamada agendada com um advogado: “Vamos saber quais são os nossos direitos e queremos que a justiça seja feita”, assume Teresa.

O caso tornou-se mediático, com vários passageiros a publicarem vídeos e comentários sobre o sucedido nas redes sociais.

Para além disso, no mesmo voo viajava uma repórter da CNN que, mais tarde, conseguiu entrar em contacto com Teresa e a amiga, e que lhes contou que o homem “continuou a tratar mal as pessoas”.

Terá dito ainda a um passageiro, que as defendeu, “devias ter saído, não acredito que vou ter de olhar para a tua cara nas próximas três horas” e expulsado a mulher, com a filha de três anos, que se manifestou.

Quando o avião aterrou, o comissário de bordo fez questão de dizer nos altifalantes: “Bem-vindos a Nova Orleães. Estão atrasados, não estão? Numa próxima, metam-se na vossa vida se quiserem chegar a horas”.

Para Teresa, o que se passou foi “uma falta de respeito e não pode passar impune”. “Ele utilizou o poder dele para tomar esta decisão, mas foi totalmente a título pessoal”, refere, “aliás, havia pessoas no início do avião que estavam com crop tops, ou seja, ele só embirrou connosco”, continua.

“Não estávamos alteradas, não levantámos a voz, nada, dá para ver nos vídeos”, salienta, “eu quase nem falei, eu estava completamente chocada, eu acho que fiquei apática mais de meia hora”, esclarece.

Nos EUA, vários canais de televisão contaram a história das duas amigas, que continuam assustadas, dado que hoje vão viajar de volta para Los Angeles na mesma companhia. “Nem aproveitámos a viagem da mesma maneira”, reflete Teresa.

“Na verdade, cada vez que pensamos nisto, não acreditamos que aconteceu”, conclui, referindo que “passar por uma situação destas em 2024” em qualquer país, mas ainda mais “nos EUA, onde se assumem como o país da liberdade, é muito triste”.

O SAPO24 tentou contactar a companhia aérea Spirit Airlines, mas, até ao momento, não obteve qualquer resposta.