O comício ou manifestação (o PP chamou-lhe “iniciativa partidária aberta”) ocorreu num momento em que o candidato formal a primeiro-ministro de Espanha, na sequência das eleições de 23 de julho, é o líder dos populares, Alberto Núñez Feijóo, e não Sánchez.
O PP foi o partido mais votado, mas sem maioria absoluta, e Feijóo submete-se esta semana, a partir de terça-feira, ao voto do parlamento espanhol como candidato a primeiro-ministro, numa tentativa de investidura que o partido e o seu líder reconhecem que será, quase com toda a probabilidade, falhada, por não contar com os apoios suficientes.
Assim, o próprio PP e Feijóo têm centrado já o discurso nas críticas e alertas em relação às negociações de Sánchez com independentistas para ser reconduzido como primeiro-ministro, sobretudo, a possibilidade de uma amnistia para dirigentes catalães envolvidos na declaração unilateral de independência da Catalunha em 2017.
Foi exatamente isso que aconteceu na iniciativa de hoje em Madrid, que reuniu, segundo o PP, mais de 60 mil pessoas e, segundo as autoridades policiais, cerca de 40 mil.
Foi um dos comícios mais participados de sempre do PP, afirmaram no final aos jornalistas membros da equipa de assessores de imprensa do partido.
Além de Feijóo, estiveram na Praça Felipe II de Madrid os ex-primeiro-ministros José María Aznar e Mariano Rajoy e os presidentes das diversas regiões autónomas lideradas pelo PP.
Feijóo e os anteriores líderes do PP centraram todos os discursos de hoje nas críticas ao partido socialista (PSOE) e a Pedro Sánchez e na defesa da Constituição, da democracia e do estado de Direito em Espanha, que consideraram estar sob “um ataque sem precedentes” por causa da amnistia a independentistas catalães que dizem estar já negociada.
“A cidadania e a Constituição não podem ser moeda de troca para satisfazer golpistas”, disse Aznar, que apelou à mobilização “de todos os esforços para evitar este ataque sem precedentes”.
É a primeira vez na história que o governo de Espanha não depende de um resultado eleitoral, mas da “chantagem de um fugitivo à justiça”, realçou Rajoy, referindo-se ao ex-presidente do governo regional da Catalunha Carles Puigdemont, que vive na Bélgica desde 2017 para escapar às autoridades judiciais espanholas.
“A amnistia deslegitima o Estado de Direito, a Constituição e a democracia espanholas” e “é também uma fraude”, porque não estava em nenhum programa eleitoral nas legislativas de 23 de julho, disse ainda Rajoy.
Feijóo, numa intervenção de meia hora, pouco se referiu à sua própria tentativa de investidura dentro de 48 horas, mas garantiu que não se moverá dos seus princípios, “mesmo que isso custe o cargo de presidente do governo”.
Para o líder do PP, na Espanha liderada pelos socialistas, “o golpismo tem direito a amnistia” e os acordos de Sánchez com os independentistas traduzem-se em “privilégios para uma elite de políticos”.
Feijóo sublinhou que “a governabilidade de Espanha” está nas mãos “dos que querem abandonar Espanha”, e que os partidos independentistas nunca tiveram tão poucos votos na última década (6% nas legislativas de julho).
“Não há consentimento dos espanhóis” para uma amnistia, “o voto de uns não tem mais valor do que o de outros” e a lei e a justiça “são iguais para todos, começando pelos políticos”, defendeu o líder do PP, que foi interrompido por gritos de “presidente, presidente” e por aplausos várias vezes durante esta intervenção.
Um desses momentos foi quando agradeceu aos 33 deputados do VOX (extrema-direita) e aos dois da Coligação Canária e da União do Povo Navarro que anunciaram que o vão apoiar na tentativa de investidura como primeiro-ministro.
Empunhando essencialmente bandeiras de Espanha, as dezenas de milhares de pessoas que se juntaram na Praça Felipe II de Madrid gritaram também, por diversas vezes: “Puigdemont, para a prisão”.
Se a investidura de Feijóo falhar esta semana, o Rei Felipe VI terá de indicar outro candidato a primeiro-ministro ao parlamento, que deverá ser Pedro Sánchez, líder do PSOE, o segundo partido mais votado nas legislativas.
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