Com formação em neurociências e psicologia, e com estudos e iniciativas que cruzam outras disciplinas, como a física, Mossbridge é docente no departamento de Física e Biofísica da Universidade de San Diego, membro do Institute of Noetic Sciencies e fundadora do Mossbridge Institute e do TILT – The Institute for Love and Time.

Estuda a relação entre o tempo psicológico e tempo físico, o acesso inconsciente a eventos futuros, e treina pessoas para melhorarem aquilo que considera ser a capacidade de aceder ao futuro, uma técnica que, disse, é possível para a larga maioria da população, e que depende de “amor incondicional”.

A cientista falou à Lusa à margem do simpósio “Aquém e Além do Cérebro” - organizado pela Fundação Bial e que se dedicou este ano ao tema “O Mistério do Tempo” - e em que apresentou os resultados de estudos sobre precognição comportamental e pressentimento, duas formas de previsão do futuro muito próximo (uma antecipação de segundos).

Os participantes nesses estudos, descreveu, eram capazes de antever, por uma margem de segundos, se as imagens que lhes iam ser mostradas eram positivas ou neutras. para Julia Mossbridge essas previsões de pouco tempo podem ser precognições comportamentais ou pressentimentos.

Há também um outro fenómeno que estudou em que se prevê o futuro a uma distância maior, que pode ser de dias, semanas ou meses, a que a investigadora chama visão precognitiva longínqua.

Os dados, segundo disse, comprovam, através da medição de indicadores fisiológicos como o batimento cardíaco, a respiração ou a transpiração, em média, que as pessoas são capazes de antever se a imagem que lhes será mostrada é positiva ou neutra.

Mossbridge optou por contrastar imagens neutras com as positivas, porque não gosta “de experiências em que as pessoas estão a ver imagens de armas e coisas assim, mas a verdade é que se obtém uma resposta muito forte quando se mostra imagens negativas”.

“Em média, vários estudos em vários laboratórios revelaram que, quando se mostram imagens eróticas, os homens têm um pressentimento muito mais forte. Para as mulheres, isso não é verdade. As mulheres são, em média, mais sensíveis a imagens negativas ou que induzam medo”, pormenorizou.

Mas há um outro fenómeno que também disse ter testado - a visão precognitiva longínqua - que “vê” um futuro mais distante, de dias, semanas ou meses.

“Está muito mais perto do que as pessoas que têm precognições espontâneas experienciam”, alegou, acrescentando que estas também podem ser testadas e estimuladas em laboratório.

“Uma sessão pode durar entre cinco minutos a uma hora. O objetivo é descrever um alvo futuro. É muito útil em casos de pessoas desaparecidas, por exemplo. Mesmo sem saber nada sobre o caso, quem tem uma boa visão precognitiva longínqua pode prever onde é que essa pessoa vai ser encontrada. Também é útil para serviços de informações secretas”, disse.

Segundo a especialista, o recurso a esta capacidade “acontece em todo o mundo”, mas “a maior parte das pessoas que o fazem não o dizem, porque muitas delas são pessoas com um nível elevado de educação, são engenheiros, advogados, físicos, médicos, não querem necessariamente que o resto do mundo sabem que o fazem”.

“Fazem-no para ajudar, geralmente de forma gratuita, para ajudar as forças policiais ou de resgate. Podem cobrar, se trabalharem para uma empresa para prever qual será a próxima nova grande tendência”, confessa entre risos.

Julia Mossbridge compara a capacidade de precognição com a aptidão para perceber ou fazer música: “Numa distribuição normal de toda a população cerca de 5% das pessoas tem amusia – não têm ritmo, afinação, tom –, 95% das pessoas podem, pelo menos, cantar os parabéns, conseguem distinguir tons e bater palmas com uma batida, cerca de 15% das pessoas têm um talento natural para a música.”

“A música é um traço humano muito comum. Acho que as estatísticas são semelhantes para a precognição”, revela.

Os estudos que tem feito, alega, mostram que “qualquer pessoa que se inscreva, sem qualquer tipo de pré-seleção, tem capacidades precognitivas, especialmente visão precognitiva longínqua, mesmo que seja a primeira vez”.

Muitos não o sabem porque “a grande maioria das pessoas são reprimidas, não sabem que o fazem, e, se alguém lhes disser que estão a fazê-lo, assustam-se”, afirmou.

É aí que entra o amor incondicional, que começa pelo próprio e pela aceitação das partes racional e intuitiva do cérebro, para que “ambas as partes possam trabalhar juntas e fazer alguma coisa criativa”.

No TILT, projeto que liga o amor e o tempo, desenvolveu uma aplicação que fomenta esse amor incondicional, que, explicou, é “amar sem expectativas de recompensa, sem amarras, querer o melhor para outra pessoa, mesmo que seja diferente do que queríamos para nós, quebrar as barreiras que construímos à nossa volta, e ao mesmo tempo criar barreiras saudáveis”.

A 13.ª edição do simpósio “Aquém e Além do Cérebro”, dedicada ao tema “O Mistério do Tempo”, acontece desde quarta-feira, na Casa do Médico, no Porto, e termina hoje.