Este debate "tardava muito por preconceitos que vinham do passado, sobretudo com origem no lusotropicalismo, que partia do princípio que em Portugal não existia racismo", defendeu José Luís Hopffer Almada.

O presidente da Associação Caboverdeana de Lisboa falava à agência Lusa a propósito dos 50 anos da instituição, que serão assinalados, no sábado, na Casa do Alentejo, em Lisboa, com uma conferência e uma gala em que marcarão presença os chefes de Estado de Portugal e Cabo Verde, Marcelo Rebelo de Sousa e Jorge Carlos Fonseca.

"No passado, no tempo do Império, também se partia do princípio de que não havia racismo nas colónias portuguesas e tudo isso condicionou o debate porque havia um certo negacionismo", disse.

Apontando que o lusotropicalismo surgiu como uma corrente positiva de combate às teorias intolerantes do nazismo e da defesa das raças puras e que defendia a mestiçagem, Hopffer Almada sublinhou que acabou por se tornar numa "ideologia imperial que persistiu até agora na sociedade portuguesa".

O presidente da ACV equacionou, contudo, a possibilidade desse lusotropicalismo ter "também aspetos positivos".

"Na cabeça dos portugueses, em geral, parte-se do princípio de que os portugueses são historicamente tolerantes em relação a outras raças e isso pode otimizar um melhor relacionamento com as minorias se for bem utilizado", disse.

Mas, por outro lado, acrescentou, "pode ser negativo se essa vertente negacionista persistir e não se combater a fundo o que se chama racismo institucional ou os preconceitos racistas que às vezes nem são percetíveis pelo comum dos cidadãos".

Por isso, entende que o debate que desde há alguns meses decorre em Portugal poderá ter efeitos "muito positivos" no combate a esse racismo.

"Pela chamada de atenção e porque vai melhorar a representatividade política das minorias", considerou.

"Não podemos persistir naquela ideia antiga e paternalista de que são os outros a falar de nós, somos nós que temos de falar dos nossos problemas", acrescentou.

José Luís Hopffer Almada sublinhou, neste contexto, o papel da associação a que preside como um "importantíssimo espaço de debate político".

"Somos independentes politicamente, mas a associação é um espaço de debate e do contraditório democrático", disse, adiantando que a associação tem recebido académicos, estudiosos com vários posicionamentos sobre as questões cabo-verdianas, mas também políticos.

"O que não toleramos na associação cabo-verdiana são posicionamentos nitidamente racistas ou de xenofobia", concluiu.