O anúncio feito por Jacob Mudenda foi recebido com aplausos e vivas por parte dos deputados, que se encontravam reunidos desde o princípio da tarde para iniciar o processo de destituição do presidente.

"Eu, Robert Gabriel Mugabe (...) apresento formalmente a minha demissão de Presidente da República do Zimbabué, com efeitos imediatos", escreveu Mugabe na carta lida por Jacob Mudenda. "Demito-me voluntariamente. (...) Esta decisão foi motivada pelo (...) meu desejo de garantir uma transição do poder sem problemas, pacífica e não violenta", explicou ainda Mugabe.

O anúncio da demissão de Mugabe foi recebido com vivas e aplausos na assembleia nacional do Zimbabué, mas também nas ruas da capital, Harare, onde os cidadãos começaram a apitar as buzinas dos automóveis.

"Lutámos contra um leão e ganhámos", disse Lovemore Mutuke, líder da bancada do partido União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF), momentos após ter sido lida a carta, segundo a Bloomberg.

A atual crise política no Zimbabué começou quando os militares tomaram o controlo do país na noite do passado dia 14, depois de, na semana anterior, Mugabe, de 93 anos, ter destituído o seu vice-presidente e aliado de longa data, Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, que tinha estreitas ligações com os militares.

Robert Mugabe estava no poder desde a independência do Zimbabué, em 1980. Até à entrega da carta, que terá sido entregue de forma voluntária, o ex-presidente tinha renunciado todos os ultimatos para se afastar da Presidência zimbabueana e ceder o poder, incluindo o ultimato feito pelo seu próprio partido, a ZANU-PF.

Isto levou a que os deputados da ZANU-PF anunciassem que iriam dar até esta terça-feira antes de avançarem com um processo que iria permitir desencadear a sua destituição, que esteve no poder nos últimos 37 anos.

No domingo, a ZANU-PF já tinha destituído Mugabe da liderança da força política e apresentado Emmerson Mnangagwa como candidato às eleições presidenciais de 2018. Este desencadeou um conjunto de reações, culminadas com a intervenção militar do exército que tomou o controlo do poder e impediu Mugabe de continuar a manobrar politicamente para que a sua mulher, Grace, o substituísse na Presidência do país.

Robert Mugabe estava em prisão domiciliária desde a noite da passada terça-feira, altura em que os militares tomaram o controlo da capital Harare. Até à data, os militares rejeitaram sempre a ideia de que esta crise é um “golpe de Estado”.