A consulta, que amplamente rejeitou o novo aeroporto (69,95% dos votantes), não foi organizada pelas autoridades eleitorais nacionais, e os detratores contestam a sua legalidade e denunciam a ausência de rigor, como votos múltiplos, constatados por diversos órgãos de comunicação social no terreno.
“A decisão respeita o mandato dos cidadãos, nós vamos construir duas pistas no aeroporto militar de Santa Lucia, melhorar o aeroporto da Cidade do México e reativar o aeroporto de Toluca”, explicou Lopez Obrador numa conferência de imprensa no dia seguinte à consulta.
“Foram as pessoas que decidiram”, sublinhou o Presidente eleito, saudando uma “muito boa decisão”.
Lopez Obrador, que assumirá o cargo de chefe de Estado a 01 de dezembro, precisou que as empresas que estão a trabalhar na obra em curso serão escolhidas para o projeto alternativo ou que se chegará a um acordo financeiro com elas.
Durante a sua campanha, Lopez Obrador criticou muitas vezes o projeto do mega-aeroporto devido ao seu elevado custo, ao impacto ambiental e a supostos atos de corrupção na atribuição dos contratos.
Com esta decisão, o Governo mexicano vai economizar, segundo o Presidente eleito, “100 mil milhões de pesos” (4,4 mil milhões de euros).
O problema da atual saturação do aeroporto internacional será resolvido em três anos, prometeu o próximo chefe de Estado, e serão construídas ligações ferroviárias entre os diferentes terminais.
A construção do aeroporto foi rejeitada por 69,95% dos votantes numa consulta realizada entre quinta-feira e domingo, na qual participou um pouco mais que um milhão de mexicanos.
O escrutínio deveria servir para escolher entre um projeto já iniciado – estimado em mais de 13 mil milhões de dólares (11,4 mil milhões de euros) – e uma alternativa prevendo obras de ampliação do aeroporto militar de Santa Lucia, no sul da capital, do atual aeroporto da Cidade do México, bem como do de Toluca, habitualmente utilizado por jatos privados.
Um dos principais investidores da obra em curso é o magnata mexicano das telecomunicações Carlos Slim.
Para a consulta popular, só foi aberto um milhar de assembleias de voto repartidas pelo país, em contraste com as mais de 156.000 instaladas para as eleições presidenciais em julho.
A distribuição das assembleias de voto foi também criticada, tendo alguns considerado que privilegiava zonas populares que votaram maioritariamente em Lopez Obrador nas presidenciais de julho.
“O cancelamento [da obra] terá implicações jurídicas e financeiras” que prejudicarão a imagem do México, garantiu à imprensa o diretor do Conselho de Coordenação das Empresas (CCE), Juan Pablo Castañon.
“A mensagem enviada aos cidadãos, aos mercados internacionais, às empresas e aos investidores é que não há certeza de que os contratos sejam respeitados”, criticou.
Por seu lado, o Grupo Aeroportuário da Cidade do México (GACM), de capitais maioritariamente públicos, que está a supervisionar a obra, indicou que 32% do novo aeroporto está já construído e que já foi gasto o equivalente a 2,9 mil milhões de euros.
Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), a suspensão da construção do aeroporto significa “anos de atraso” em matéria de infraestruturas.
“O investimento gerado pela Texcoco (a empreitada em curso do novo aeroporto) será compensado pelo de Santa Lucia”, comentou Edward Glossop, analista da Capital Economics.
“Mas existe preocupação sobre o representará esta consulta em termos de políticas públicas”, acrescentou, já que Lopez Obrador poderá também fazer uma consulta “para os contratos petrolíferos” e tornar assim “mais imprevisível” a política macroeconómica do país, na sua opinião.
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