“A situação, sendo muito grave, não pode surpreender ninguém depois de anos de seca. Todos temos ideia de as condições climáticas se virem alterando de há uns anos a esta parte, todos sabemos a seca grave do ano passado e de há dois anos, portanto isto não surpreende”, afirmou o dirigente da CNA Alfredo Campos em declarações à agência Lusa.
Segundo dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a campanha de cereais vai ter em 2018, pelo quinto ano consecutivo, uma diminuição de área instalada, prevendo-se que seja “a pior dos últimos 100 anos”.
No que respeita aos cereais de outono/inverno - que incluem trigo, cevada, centeio, aveia e triticale -, “as atuais previsões refletem uma redução da área, pelo quinto ano consecutivo, e posicionam a campanha de cereais de pragana como a pior dos últimos 100 anos", apontam as previsões agrícolas de janeiro do INE.
Recordando que Portugal já é “altamente deficitário” na produção de cereais, Alfredo Campos avisa que a “quebra de produção continuada” que se vem registando, associada ao facto de não se prever “uma inflexão nas condições climáticas que perspetive um aumento de produção”, tem “reflexos muito negativos quer no rendimento dos agricultores, quer na capacidade de auto aprovisionamento do país”.
“[A situação] exige uma atenção muito séria para que não haja um colapso dentro de poucos anos”, adverte, recusando “medidas paliativas e em cima do acontecimento, como antecipar pagamentos ou subsídios”, para defender antes “medidas de fundo” como “a rentabilização e o alargamento da área de regadio”, a par de “alguma indicação de orientação cultural para produções menos exigentes em termos de consumo de água”.
Medidas que, para a CNA, não estão a ser tomadas, pelo menos “à velocidade a que seria necessário”: “Uma obra de rega, por muito simples que seja, não se faz de um dia para o outro. [A situação] exige uma atenção muito séria de procurar reforçar as obras de regadio, para que não haja de facto um colapso dentro de poucos anos”, sustenta Alfredo Campos.
Até porque – adverte - “calculava-se que seriam precisos dois ou três anos de chuva acima do normal para repor os níveis freáticos, mas os indicadores do INE dizem que em janeiro choveu menos do que no ano passado, o que demonstra que a situação está em profunda alteração e as medidas para as combater têm de ser profundas também”.
De acordo com o INE, prevê-se que este ano a campanha de cereais "atinja um mínimo histórico de 121 mil hectares, a menor área dos últimos 100 anos (desde que existem registos sistemáticos)". Em 2017, os dados provisórios apontam para uma área de 131 mil hectares.
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