“Devemos fazer o nosso melhor, todos juntos, para tentar preservar a paz. Estamos efetivamente à beira de um conflito armado devido às medidas unilaterais de Pristina”, indicou Branabic durante uma conferência de imprensa em Belgrado com diversas organizações não-governamentais (ONG) sérvias.

Centenas de sérvios do norte do Kosovo prosseguem o corte de estradas, incluindo com veículos pesados, num protesto iniciado em 10 de dezembro após a prisão de um antigo polícia sérvio e que impede a circulação em direção a dois postos fronteiriços com a Sérvia.

Algumas horas após a instalação das barricadas, a polícia kosovar denunciou um ataque com armas de fogo, mas sem provocar feridos.

A polícia da União Europeia (UE), deslocada na região no âmbito da missão Eulex, foi alvo de uma granada ensurdecedora, também sem registo de feridos.

As últimas tensões centram-se em particular no norte do Kosovo, onde se concentram mais de um terço dos cerca de 150.000 sérvios kosovares, e quando Pristina anunciou a intenção de organizar eleições nos municípios de maioria sérvia, após a demissão de todos os eleitos e polícias sérvios da região.

As autoridades de Pristina decidiram adiar o escrutínio para abril de 2023.

A força de manutenção de paz no Kosovo (Kfor), liderada pela NATO, reforçou a presença no norte ao enviar tropas e patrulhas suplementares, revelou na sexta-feira o general italiano Angelo Michele Ristuccia, comandante desta força, através de uma declaração divulgada pela Aliança.

Na declaração, assegura-se que a Kfor dispõe de “todas as capacidades, incluindo em termos de pessoal, para assegurar um ambiente de segurança e a liberdade de movimento de todas as comunidades, em todo o Kosovo”.

Ainda na sexta-feira, a Sérvia pediu à Kfor autorização para enviar militares e polícias para o norte do Kosovo, mas ainda sem receber qualquer resposta.

O Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, já sublinhou ser “quase certo” que este pedido “não será aceite”.

Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral da sua ex-província do sul, autoproclamada em 2008 na sequência de uma guerra iniciada por uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.

Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,8 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.

O Kosovo independente, cujo Governo pretende impor a sua autoridade em todo o território, foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.

Na terça-feira, o Governo espanhol assegurou que o país não apoiará a candidatura do Kosovo de adesão à União europeia (UE), pelo facto de não ter legitimado a secessão da ex-província sérvia.

A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.

Belgrado e os sérvios kosovares também acusam Pristina de bloquear sistematicamente a formação de uma associação de municípios sérvios, prevista nos acordos entre as duas partes assinados em 2013 e mediados pela UE, que permitiria um assinalável grau de autonomia a esta comunidade.