Estas posições foram assumidas por António Costa numa extensa entrevista que concedeu à revista “Visão” e que foi hoje publicada.
O primeiro-ministro aponta que, ao longo dos próximos anos, Portugal vai dispor de mais 50% de verbas da União Europeia do que teria num quadro financeiro normal e considera estar-se perante “um reforço da capacidade de resposta” à atual crise provocada pela pandemia da covid-19.
“Temos a bazuca. É preciso saber aproveitá-la bem, ter um bom plano de batalha e não falhar o tiro. Vamos ter, em média, daqui até 2029, ou seja, 6,7 mil milhões de euros para executar por ano. É mais do que duplicar o máximo que já tivemos até agora”, refere.
O primeiro-ministro salienta depois que a execução deste montante “vai exigir um enorme esforço por parte da administração pública, por parte dos agentes económicos e uma enorme responsabilidade”.
“Não podemos queixar-nos da falta de poder de fogo, só podemos queixar-nos se não formos capazes de definir um bom plano de batalha e se não acertarmos bem agora a nossa pontaria. A parte da Europa, a Europa fê-la. Agora cumpre-nos, a nós, aproveitar bem aquilo que a Europa disponibilizou”, avisa.
Questionado sobre os custos inerentes à execução do Plano de Recuperação 2020/2030 elaborado para o Governo pelo gestor António Costa Silva, o primeiro-ministro contrapõe que o seu executivo pediu a este professor universitário “uma visão estratégica” e um orçamento.
“Essa visão estratégica tem de ser declinada em diferentes instrumentos de execução – e esses, sim, têm de ser devidamente orçamentados. O desafio de quem governa é precisamente pegar nessa visão estratégica e dizer como se vai transformar esta visão em ação”, sustenta.
Nesta entrevista, António Costa volta a rejeitar uma solução de “Bloco Central” PS/PSD para o país, insistindo na aproximação política às forças à esquerda dos socialistas, e desdramatiza a questão da sua sucessão a médio prazo no cargo de secretário-geral do PS.
No entanto, neste ponto, não aceitou circunscrever a dois nomes, Pedro Nuno Santos e Fernando Medina, o quadro de potenciais candidatos à liderança dos socialistas.
“Eu convivo muito bem com eventuais ambições ou com alguém que queira concorrer comigo à liderança. Não é nada que me tire o sono ou que me angustie. O PS tem, felizmente, muitas soluções nas novas gerações. Quem lhe diz que não pode ser uma mulher?”, questionou o próprio António Costa.
O atual líder socialista frisou depois que não tenciona designar sucessor nem intervir nessa escolha do novo secretário-geral do PS.
“No momento em que eu considerar que é altura de deixar a liderança do PS, procurarei não incomodar ninguém nessa transição. Se entender que devo continuar, bom, disputarei e aí os militantes decidirão”, diz.
Na entrevista, António Costa defende a revisão do Regimento da Assembleia da República aprovada na semana passada pelo PS e PSD, concordando por isso com o fim dos debates quinzenais com a presença do primeiro-ministro.
António Costa entende que os debates quinzenais com o primeiro-ministro favorecia a conflitualidade interpartidária e a degradação das relações pessoais, “porque estava desenhado para ser um duelo, e os duelos só têm uma regra simples: ou mata um ou mata outro”.
“Ao primeiro ainda se acha alguma graça, ao segundo mais ou menos e ao terceiro o caldo está entornado. E isso aconteceu com vários primeiros-ministros e com vários interlocutores parlamentares das oposições. E só não é assim quando depois a leitura que é feita é a de que o opositor é fraco, é fácil, não responde”, alega.
O primeiro-ministro defende o novo modelo aprovado, considerando que favorece o escrutínio do Governo, e vai mais longe nas críticas aos debates quinzenais.
“Aquele era um modelo de lógica confrontacional, que servia simplesmente para se produzir sound bites para telejornais, e isso não é forma de debater”, argumenta.
Questionado se o confronto e a oratória não fazem parte do jogo democrático, António Costa aceita que esses fenómenos se encontram sempre presentes na vida parlamentar.
“Mas eu, como é sabido, o que mais gosto de fazer na vida política é resolver problemas. Tenho mais gosto pelas funções executivas do que por funções de outra natureza, mas respeito quem tem alergia até à função executiva e gosta de dedicar a sua vida à retórica parlamentar”, responde.
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