Esta é a primeira vez que Najib Mikati, que mantém boas relações com o Hezbollah (pró-iraniano) representado no seu gabinete, adota tal posição, embora Teerão já tenha vindo negar qualquer interferência nos assuntos internos do Líbano.
Depois de um ano de trocas de tiros na fronteira, Israel e o movimento xiita libanês Hezbollah estão agora em guerra aberta no Líbano, onde Telavive lançou nas últimas semanas uma ofensiva terrestre no sul.
Num artigo publicado na quinta-feira à noite pelo jornal francês Le Fígaro, o presidente do parlamento iraniano, Mohammad-Bagher Ghalibaf, que visitou Beirute na semana passada, afirmou que Teerão estará pronto para negociar com França um cessar-fogo no Líbano.
“Estamos surpreendidos com esta posição, que constitui uma interferência flagrante nos assuntos libaneses e uma tentativa de estabelecer uma tutela que rejeitamos sobre o Líbano”, disse o primeiro-ministro libanês, num comunicado.
Mikati indicou que pediu ao ministro dos Negócios Estrangeiros libanês para “convocar o encarregado de negócios iraniano” no Líbano para pedir “explicações” sobre estas observações.
O embaixador iraniano no Líbano, Mojtaba Amani, foi ferido em meados de setembro na explosão de um ‘pager’, tal como centenas de membros do Hezbollah, operação atribuída a Israel.
Nesse sentido, a Presidência do Conselho de Ministros libanês emitiu um comunicado na conta oficial X no qual anuncia o pedido de Mikati para abordar as declarações de Ghalibaf com o encarregado iraniano.
Na nota informativa, é indicado que foi pedido ao chefe da diplomacia libanesa que informasse o encarregado de negócios iraniano sobre a posição do Líbano sobre esta questão.
“A questão da negociação para implementar a Resolução Internacional 1701 [do Conselho de Segurança da ONU] é assumida pelo Estado libanês, e todos devem apoiá-lo nesta direção, não tentar impor novos mandamentos que são rejeitados por todas as considerações nacionais e soberanas”, afirmou Mikati, segundo a declaração.
A resolução, adotada em 2006 após o fim da Segunda Guerra do Líbano, estipula que apenas as forças armadas libanesas podem ser colocadas na faixa de fronteira e que os milicianos do Hezbollah estacionados ao longo da fronteira com Israel devem retirar-se para norte, acima do rio Litani. Tal também implica o desarmamento do movimento xiita.
Numa declaração anterior, Mikati “ficou surpreendido” com a declaração do presidente do parlamento iraniano, que considerou “constituir uma interferência flagrante nos assuntos libaneses e uma tentativa de estabelecer uma tutela inaceitável sobre o Líbano”.
No passado dia 12 de outubro, o presidente do parlamento iraniano encontrou-se com Mikati durante uma visita a Beirute, durante a qual denunciou “os crimes” de Israel, que está a realizar uma campanha de ataques intensivos no Líbano e incursões terrestres no sul.
Mikati disse ter informado Ghalibaf, bem como o chefe da diplomacia iraniano, Abbas Araghchi, que tinha visitado o Líbano anteriormente, “da necessidade de compreender a situação do Líbano, sujeito a uma agressão israelita sem precedentes”.
Em Teerão, o parlamento iraniano negou entretanto que Ghalibaf tenha proposto negociar com a França a aplicação da resolução do Conselho de Segurança da ONU e atribuiu a informação a interpretações “incorretas”.
“A posição tomada por Ghalibaf é muito clara. O presidente do parlamento disse ao primeiro-ministro libanês que o Irão apoiará o que o Governo libanês aprovar para alcançar um cessar-fogo sustentável”, afirmou a mesma fonte.
Mesmo assim, a câmara indicou que nenhum acordo pode ser alcançado sem o apoio do chamado “Eixo da Resistência”.
O “Eixo da Resistência” é uma aliança anti-Israel liderada pelo Irão e formada pelo Hezbollah libanês, pelos palestinianos do Hamas e pelos Huthis do Iémen, entre outros.
O primeiro-ministro libanês enfatizou que o seu governo está “a trabalhar com todos os amigos do Líbano, incluindo a França, para pressionar Israel por um cessar-fogo”.
Pelo menos 1.418 pessoas foram mortas no Líbano desde a intensificação das operações israelitas no Líbano, a 23 de setembro, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais, e mais de um milhão foram forçadas a abandonar as suas casas.
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