"Não quer dizer que o pinhal não vá ser pinhal. O pinhal vai ser pinhal e só é pinhal se tiver pinheiro. Mas, para nós termos um bom pinhal e um bom pinheiro que seja, também ele, resistente ao fogo, é preciso que este pinhal não seja só de pinheiro e tenha a boa composição e o bom ordenamento que ajude à sua resistência", disse António Costa, na Marinha Grande, numa intervenção na sessão de apresentação da Estratégia de Recuperação do Pinhal do Rei.
Antes da sessão, junto à localidade de Vieira de Leiria, António Costa juntou-se a Tomás, aluno de uma escola local, na plantação de um sobreiro, numa zona onde, nos incêndios de 15 de outubro - que queimaram cerca de 86% do Pinhal de Leiria - se mantiveram "intactos os sobreiros altivos" ali existentes.
"Eram uma faixa de proteção não só à zona habitacional, mas prova da resistência que o sobreiro tem, completamente diferente da que tem o pinheiro bravo ou o eucalipto perante as chamas", frisou o primeiro-ministro.
O governante assinalou ainda a importância de associar à intervenção do Estado no Pinhal de Leiria quer a comunidade científica - consubstanciada na constituição da Comissão Científica de Programa de Recuperação das Matas Litorais - quer a comunidade local, através das autarquias e instituições da sociedade civil, na criação do Observatório Local do Pinhal do Rei, acordos hoje assinados.
"É muito importante que a comunidade científica esteja aqui presente, porque temos de ter um pinhal que não seja só pinhal. Temos de ter, não só, descontinuidade das faixas, mas uma boa mistura das espécies plantadas", argumentou o primeiro-ministro.
Por outro lado, António Costa disse pretender que exista "capacidade" de fazer com que a agricultura entre "de novo" dentro do espaço florestal, "porque é também uma forma de assegurar, de modo natural, a descontinuidade [da mancha de pinheiro-bravo]" e, ao mesmo tempo, de assegurar "rentabilidade, modo de vida, produção, não só do solo como também das populações que vivem naquelas zonas", disse.
O primeiro-ministro reafirmou ainda a determinação do Governo em realizar o cadastro florestal e, para além de se "plantar melhor" a floresta portuguesa, "ter a coragem de cortar o que tem de ser cortado" em redor das aldeias e habitações "para ter um território mais seguro".
"É necessário, desde já, começar a replantar este pinhal, da mesma forma que é necessário prevenir aquilo que temos de fazer no médio e longo prazo", sustentou António Costa.
Antes da sessão, aquando da plantação do sobreiro, o chefe do Governo não deixou de tirar várias ‘selfies' com um grupo de crianças de telemóvel em punho, a quem, logo de seguida, recomendou que não pisassem o sobreiro acabado de plantar.
Na ocasião, o representante diplomático da Comunidade Ismaelita (Imamat Ismaili) em Portugal, Nazim Ahmad, entregou simbolicamente, um cheque de 100 mil euros ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), como contributo para a reflorestação do Pinhal de Leiria.
A disponibilização desta verba pela Fundação Aga Khan "deverá permitir a limpeza de uma área de 75 hectares, situada na zona norte da Mata Nacional de Leiria e a posterior plantação de cerca de 156 mil árvores", é referido num comunicado da instituição.
A comitiva governamental seguiu, depois, para uma zona da estrada entre a Vieira de Leiria e a Marinha Grande, onde observou o corte de árvores ardidas nos incêndios de 15 de outubro, realizado naquele local por questões de segurança e para permitir a reabertura de estradas e caminhos que passam pelo interior do Pinhal do Rei.
À chegada à Marinha Grande, à porta do auditório onde decorreu a sessão, cerca de 50 pessoas aguardavam António Costa com faixas onde reclamavam "mais meios para o Pinhal do Rei" e também mais meios e médicos para o centro de saúde local. O primeiro-ministro entrou no edifício sem chegar próximo dos manifestantes, afastados da porta pela PSP.
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