O voo, que fez escala em Roma, aterrou depois da hora prevista, já depois das 14:00, mas o grupo que desceu a rampa das chegadas no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, vinha com ar sereno, com algumas pessoas que acenavam para as câmaras de televisão.
Saman Ali, 34 anos, vem logo na frente, com um cartaz onde pode ler-se “Thanks Portugal. I love you” (“Obrigado Portugal. Amo-te”), e é ele quem faz algumas declarações aos jornalistas, momentos depois de aterrarem.
“Estou muito, muito contente. Sinto que renasci hoje porque sinto-me seguro e todos nos receberam bem. Obrigado por tudo”, diz, em inglês.
Em poucas palavras, Saman Ali conta um pouco da sua história, de como se viu obrigado a fugir da sua cidade natal, no Iraque, de como ficou sozinho, sem família, depois de os terroristas do Estado Islâmico terem matado milhares de pessoas.
“Em agosto de 2014, o ISIS (Estado Islâmico) atacou a nossa cidade, juntaram todas as famílias, como a minha mãe e as minhas irmãs e mais três mil famílias, entre mulheres e crianças. Até hoje não sabemos nada deles”, disse.
Desses tempos, recorda que a vida era muito difícil e que chegou a ser perseguido, afirmando, com convicção, que nunca mais poderá regressar ao Iraque.
Do seu país natal viajou para a Turquia e daí para a Grécia, onde viveu um ano e três meses até viajar para Portugal.
Do país tinha apenas informação genérica, mas depois, quando as autoridades portuguesas lhe disseram que seria acolhido em Portugal, procurou informação e daí percebeu que “o país é bonito”, tem história, as “pessoas são muito amigáveis e educadas”, já para não falar no clima, que lhe agradou muito.
“Tenho muitos sonhos em Portugal. Quero aprender a língua, quero retomar os estudos, porque eu tenho um mestrado em biologia médica, quero conseguir o doutoramento e contribuir para a sociedade portuguesa porque sinto que este país é o meu segundo país para sempre”, disse Saman Ali.
Para o ministro-Adjunto, Eduardo Cabrita, o acolhimento destas 24 pessoas “é um passo mais na forma portuguesa de participar no esforço europeu de solidariedade em torno do acolhimento aos refugiados”.
O grupo de refugiados deveria ser constituído por 30 pessoas, mas uma família com dois adultos e quatro crianças não embarcou por motivos de saúde de um dos elementos.
“Aquilo que desejamos a partir de hoje é criar todas as condições para que, neste caso na cidade de Guimarães, eles possam ser, primeiro, bem acolhidos, em segundo lugar bem integrados e que possam aqui iniciar uma nova vida num tempo de esperança”, adiantou Eduardo Cabrita.
De acordo com o ministro, Portugal já recebeu cerca de 1.150 pessoas refugiadas, estando prevista a chegada nas próximas semanas de mais um grupo de pessoas da comunidade yazidi, que ficará instalado em Lisboa.
Além disso, estão já registadas, com opção de recolocação em Portugal, mais 91 pessoas yazidi com todo o processo tratado na Grécia.
Pela autarquia de Guimarães, a vereadora da ação social, Paula Oliveira, adiantou que está já tratada toda a logística referente ao alojamento destas famílias, com estrutura preparadas e experiência de um ano a acolher refugiados, “para satisfazer as necessidades básicas destas pessoas”.
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