
No dia em que a Casa Acreditar de Lisboa completa 22 anos e um ano da reabertura com mais quartos, para poder acolher simultaneamente até 32 famílias que acompanham os filhos em tratamento oncológico, João Nisa contou à agência Lusa o seu percurso desde que foi diagnosticado com cancro em criança até à sua participação na clássica maratona no dia 27 de abril.
“Quando tinha sete anos fui diagnosticado com Linfoma não Hodgkin, na altura do Natal, e fui rapidamente reencaminhado para [o IPO de] Coimbra, onde estive um ano em internamento”, contou o jovem “Barnabé”, nome dado pela Acreditar aos sobreviventes de cancro infantil.
Natural do Fundão, João Nisa relatou que teve “a sorte, e o mérito também de todos os profissionais” que o acompanharam, de ter feito o tratamento durante esse ano sem qualquer tipo de recaída.
Nesse ano, contou, a Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro teve um papel “bastante importante”, sobretudo pelo acompanhamento que deu aos seus pais, que na altura o acompanharam durante o internamento, e por algumas iniciativas que organizava.
“Uma pessoa acabava sempre por sair do ambiente hospitalar que, a partir de determinada altura, consegue ser bastante drenante”, disse, recordando as festas de Natal, com a participação de artistas, que também proporcionavam o encontro entre as famílias e os jovens em tratamento com sobreviventes de cancro infantil.
A sua relação com a associação foi sendo mantida, através das atividades que a Acreditar organizava com o grupo de “Barnabés” e as festas que realizava ao longo do ano.
“Mas na minha memória sempre ficou a intenção de um dia, quando fosse estudar para o Porto ou para Lisboa, de tornar-me voluntário e ter uma presença mais perto, não só dos jovens que passaram por aquilo que passei, mas também das famílias que acabam por ser altamente impactadas por todo este processo”, salientou.
Essa intenção foi concretizada quando João ingressou na faculdade em Lisboa e passou a fazer parte do corpo voluntário da Acreditar, uma atividade que teve de deixar quando foi morar para Londres, na Inglaterra.
“Londres trouxe-me coisas boas e coisas más”, nomeadamente deixar de fazer o voluntariado que tanta prezava.
“E, portanto, esta iniciativa [maratona] veio substituir um bocadinho a presença e a preponderância que o voluntariado tinha na minha vida, mas vem, sobretudo, procurar alavancar uma mensagem que eu sentia que tinha bastante peso nos pais que acompanhavam as crianças no serviço de pediatria de que é mesmo possível acreditar”, realçou.
Dado que, por motivos geográficos, João não pode voltar ao serviço de pediatria com a frequência de outrora, a maratona surgiu como uma oportunidade para transmitir esta “palavra de alento” que pode ter um impacto nas famílias.
A participação na clássica corrida de maratona da capital londrina começou com um plano de treino de 16 semanas, tendo João já corrido perto de mil quilómetros desde o início do ano.
“Fisicamente sinto-me bastante capaz e isso deve-se graças ao meu treinador, Fernando Correia, que tem sido absolutamente incrível a acompanhar-me”, enalteceu, contando que esta aventura começou com dois grandes amigos: Ana Bárbara e Tomás Aguiar.
Apesar de já sentir alguma ansiedade, disse estar confiante de que, “no dia, tudo vai correr bem”.
Cada quilómetro percorrido por João é um passo em direção a um maior conforto para as famílias, apelando, por isso, às pessoas para que participem na iniciativa solidária, com um donativo aqui, mas também para que consignem 1% do IRS à Acreditar.
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