“Tivemos condições climatéricas excecionais extremas que destruíram grande parte da produção e que teve um efeito devastador em, pelo menos, 50% da produção, sendo provável que este número até venha a ser superior”, frisou o autarca deste concelho do distrito de Castelo Branco, que é uma das principais zonas de produção de cereja nacional.
Segundo explicou, o nevão caído no final do mês de março, seguido de geada forte e temperaturas muito baixas, bem como a chuva intensa e a queda de granizo, em abril, levaram a que mais de metade da produção ficasse “arruinada”.
Se em anos normais a produção de cereja neste concelho supera as sete mil toneladas, este ano estará entre as três mil a três mil e quinhentas, “na melhor das hipóteses”.
A estimativa do município tem em conta o levantamento feito junto dos produtores e também um relatório da Direção Regional de Agricultura, que atesta as condições meteorológicas extremas que se fizeram sentir, com consequências “muito duras” e ainda difíceis de apurar a nível económico.
“Teremos uma campanha muito condicionada a todos os níveis”, apontou o autarca, sublinhando que o município está a acompanhar a situação, quer para ajudar a agilizar o acesso aos seguros, quer no sentido de encontrar um “apoio extraordinário” para esta fileira.
A questão das perdas será também apresentada à tutela numa visita que a ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, deverá fazer ao concelho durante a campanha, que deverá arrancar entre o final do mês e o início de maio.
Outra preocupação prende-se com os efeitos da covid-19, motivo pelo qual este ano os produtores vão implementar um “Código de Boas Práticas para a Colheita”, que foi publicamente apresentado hoje e que apresenta recomendações direcionadas para o “trabalho seguro” e para minimizar riscos relacionados com a pandemia na fase da colheita.
No manual encontram-se medidas que já eram seguidas e outras, como a exigência de uma quarentena obrigatória para quem chegue de fora para a apanha ou a recomendação de medições de temperatura diárias e a implementação de horários diferenciados de saída e entrada.
As ações a adotar ao nível dos motoristas, dos fornecedores ou as questões da higiene e segurança nas centrais hortofrutícolas estão igualmente contempladas.
“Regras apertadas” que visam reforçar a confiança do consumidor e mostrar que a Cereja do Fundão é sinónimo de um “consumo seguro”, de um “trabalho seguro” e de práticas social e ambientalmente responsáveis, frisou Paulo Fernandes.
Apesar dos custos acrescidos que implicará para produtores, o código é encarado como uma “mais-valia” e uma “ajuda” para os produtores, tal como referiram Paulo Ribeiro, da Cerfundão, e Gonçalo Batista, da Appizêzere, duas organizações de produtores locais que subscrevem e recomendam que todos sigam este manual de boas práticas.
O Fundão, no distrito de Castelo Branco, tem atualmente entre 2.000 a 2.500 hectares de pomares de cerejeiras e, de acordo com a autarquia, a fileira da produção de cereja neste concelho (que inclui subprodutos e negócios associados) já representa mais de 20 milhões de euros por ano na economia local.
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