O alerta surgiu nas redes sociais, nomeadamente na página de Facebook Torres Vedras Antiga. "São vários os produtos alimentares, ainda fechados, que nas últimas semanas estão a aparecer nas praias do Oeste. Existe o registo deste aparecimento nas praias de Torres Vedras e Peniche", pode ler-se.
André, responsável pela página, explica ao SAPO24 que "não são só refrigerantes, são também outros produtos alimentares, como por exemplo embalagens de café, leite em pó, noodles, garrafas de água, etc".
"A maioria dos produtos são estrangeiros com a validade terminada ou a terminar" e "os refrigerantes Coca-Cola têm a informação 'for on board airline and maritime' [para companhias aéreas e marítimas]", acrescenta, o que leva a pensar que o conteúdo terá caído de algum navio.
Mas estes aparecimentos não começaram apenas agora. "Estas embalagens começaram a aparecer, em pouca quantidade, no início de fevereiro... Agora é que está a aparecer mais quantidade. Mas não é recomendado consumir estes produtos alimentares", alerta.
As fotografias tiradas por André mostram estes produtos nos areais de várias praias do concelho de Torres Vedras: Amoeiras, Formosa, Navio, Amanhã, Mexilhoeira e Santa Rita.
"As autoridades já foram informadas e o departamento de limpeza do município também". Contudo, nada foi feito até ao momento e a Autoridade Marítima Nacional (AMN) diz não ter conhecimento do sucedido.
"Informamos que não foram recebidos relatos da existência destes produtos, nem pedidos de recolha, em nenhuma praia na área de jurisdição de Peniche", que inclui também as praias de Torres Vedras, referiu esta entidade ao SAPO24.
Apesar disso, os relatos sucedem-se. A propósito da publicação de André, um outro utilizador da rede social, diz ter visto latas na praia da Foz do Sizandro, no mesmo concelho. "Estavam junto ao primeiro caixote do lixo no passadiço a seguir à ponte de madeira. Estranhei mas não liguei, quando estava pelo Facebook vi a publicação e lembrei-me", diz ao SAPO24. Neste caso, "era um pack completo de seis latas de Coca-Cola, embalado".
Avançando na costa, também em Peniche estão a aparecer alguns produtos nas praias. No Instagram, a Associação Mestres do Oceano tem divulgado vários vídeos onde são percetíveis objetos que não deveriam estar nas praias.
"Do Baleal ao Pico da Mota, encontrámos dois cocos, um pacote de batatas de um país asiático, queijo mozzarella de Itália e um Ice Tea de chá verde dos Países Baixos", enumera a associação ao SAPO24.
E realça a surpresa dos achados. "Não é muito normal encontrarmos pacotes ou garrafas por abrir. Encontramos já abertas, umas vazias, umas partidas e rachadas, e outras reutilizadas", nota.
Quanto à inação da AMN, os Mestres do Oceano referem que esta entidade até poderá fazer algo, mas para isso é preciso "entregar os objetos para eles depois decidirem o que fazer".
Além dos produtos alimentares, outros objetos têm surgido nas praias. "Também temos encontrado dois tipos de coisas não tão comuns: restos de artes de pesca do Canadá e dos EUA e também muitos jerricãs. Uns foram provavelmente usados por pescadores como bóias, mas muitos são das lanchas rápidas dos traficantes de droga que fazem rotas marítimas".
"No inverno há mais tempestades e, como tal, infelizmente há mais lixo e algum dele oriundo do outro lado do Atlântico", é referido.
Nesse sentido, a associação aponta aquele que considera ser o verdadeiro problema. "Infelizmente não há 'vigias do lixo', ou seja, uma entidade do Estado que recolhe o que arroja na nossa costa, o que complica muito. Os municípios têm equipas de limpeza, mas geralmente só em praias vigiadas, o que não é suficiente".
"É por isso que há várias associações ligadas ao lixo marinho, para fazerem recolha e identificação do mesmo", defende.
E deixa o alerta. "Há muita coisa a fazer sobre este tema e há possibilidade de reduzir bastante o lixo no mar. É preciso investir por parte do Estado nesta matéria. E estamos super dispostos em ajudar, quer na mensagem, mas principalmente em ideias que podem funcionar facilmente e que são urgentes".
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