Professor da Universidade Católica do Porto, António Fonseca é autor de várias obras dedicadas às temáticas das ciências psicológicas e do envelhecimento e aceitou avaliar os resultados do projeto que está a ser desenvolvido pela associação de jovens Azimute, na aldeia da Portela.
Nos últimos sete anos, a associação impulsionou os “mestres” da aldeia a partilharem os saberes com os mais novos e, mais recentemente, com outros idosos de lares de Bragança com resultados “positivos” no combate ao isolamento e estabelecimento de relações, como comprova um estudo realizado por uma equipa coordenada pelo investigador.
O reatar de relações, o regresso às sensações das memórias, o trabalho manual ou a simples caminhada de casa para a associação revelaram, segundo o estudo apresentado hoje, benefícios, nomeadamente ao nível da saúde mental e física, com melhoria inclusive dos movimentos.
Há sete anos que a Azimute trabalha com os mais velhos, primeiro os da aldeia e no último ano e meio de quatro instituições de Bragança, concretamente a Misericórdia, Obra Padre Miguel, Fundação Betânia e Santo Condestável.
O projeto tinha a duração de 15 meses, mas continua devido à recetividade, apesar de ter acabado o financiamento atribuído pelo BPI-Sénior, como indicou João Cameira, presidente da Azimute.
Durante esses 15 meses, a associação pediu a parceria da equipa da Universidade Católica para avaliar os resultados do projeto que juntava os utentes das quatro instituições periodicamente em atividades na antiga escola primária da Portela, recuperada para sede da Azimute.
O estudo foi realizado pelos mestrandos André Soares e Diana Barros, sob a supervisão de António Fonseca, e as conclusões levam o investigador a apontar este projeto como um exemplo a replicar pelo país.
Para o especialista, “este é um projeto importante porque está inserido na comunidade, aproveita os recursos da comunidade para levar as pessoas mais velhas, que vivem em instituições, a participarem em atividades na comunidade e que são para elas significativas”.
“É um projeto que não inventa, que usa os recursos da comunidade, nomeadamente os saberes que “mestres” têm de fazer o pão, as compotas, e saberes relacionados com a vida rural, para proporcionar às pessoas que vivem em instituições implementarem as suas memórias e puderem realizá-las”, apontou.
António Fonseca usa a imagem de uma excursão para assinalar o que distingue este projeto de algumas atividades que são realizadas pelas instituições de acolhimento de idosos.
“A grande diferença entre a excursão e a participação é que quando nós fazemos uma excursão, levamos as pessoas ao sítios, mas não as fazemos participar naquilo que os sítios podem oferecer”, comparou.
Nesse sentido, alerta que “há muitas atividades que são propostas aos idosos, mas que não têm a ver com os interesses deles, que são atividades que poderão ser interessantes sob o ponto de vista de quem as propõe, mas não interessantes para quem as realiza”.
“Eu posso promover o isolamento colocando a pessoa à frente do computador a falar para um Skype, mas não estou a promover relações pessoais, de toque, de intimidade, de riso, de humor”, observou.
António Fonseca defende que, em vez da obsessão em estimular os mais velhos com programas, as instituições deviam proporcionar-lhes “uma rotina do dia a adia em que aquilo que é uma vida mais ou menos parecida com a vida comum esteja presente”.
“As instituições estão pensadas muito no modelo dos anos 70 e 80, que eram instituições pensadas para proteger os idosos e, portanto esse modelo aproxima-se hoje muito mais de um modelo hospitalar do que daquilo que seria o ideal do modelo assistencial para idosos”, observou.
A associação Azimute tem já um novo projeto com financiamento assegurado para testar durante três anos o modelo da Portela em mais três aldeias, outra do concelho de Bragança e duas do concelho de Vimioso, como adiantou o presidente João Cameira.
Segundo disse, esta nova etapa ainda está em fase de preparação e, por isso, ainda não revelou o nome das três aldeias onde vai chegar o projeto da Portela que nos últimos anos envolveu mais de 250 idosos, entre os “mestres” da aldeia e os utentes de instituições.
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