Com uma ambição também social, o projeto piloto instalado no Museu da Cidade de Lisboa foi levado para Alvalade, onde irá envolver as comunidades dos bairros da Murta e de São João de Brito, conforme explicou à Lusa Margarida Villas-Boas, uma das fundadoras da Upfarming.
“A nossa tecnologia, quando comparada com a agricultura horizontal tradicional, produz 10 vezes mais, tem uma grande vantagem para o clima como o nosso, do sul da Europa, poupa 90% da água. Sabemos que a gestão de recurso hídricos em Portugal será um dos temas mais prioritários em termos de alterações climáticas no futuro”, disse a responsável.
As ‘upfarms’ são hortas verticais rotativas com seis metros de altura, compostas por 22 prateleiras de 2,4 metros de largura e “que vão rodando lentamente ao longo do dia, podendo ter mais de 800 vegetais diferentes em produção, produzindo cerca de 100kg por mês, o que dá para alimentar 40 pessoas”, conforme explicou Bruno Lacey, também mentor da Upfarming e fundador da Urban Growth, uma empresa social que cria e mantém espaços verdes em Londres.
Segundo este responsável, o movimento rotativo da torre vertical “permite não só que a fotossíntese seja feita com luz solar, como permite que as prateleiras sejam acessíveis a toda a gente, desde crianças, idosos ou pessoas com mobilidade reduzida”.
“Podemos montar nesta horta muito mais plantas que numa horta tradicional e por ser vertical podemos ter este tipo de horta no centro da cidade, temos um sistema bastante simples, ‘low tech’ e com pouca energia para rodar, mas uma colheita muito maior do que no sistema normal”, disse Bruno Lacey, referindo que, atualmente, há nove tipo de plantas a crescer.
De acordo com Margarida Vilas-Boas, a Upfarming é um projeto que tem no fundo uma ideia de “empoderamento das comunidades” onde estão inseridas, de forma a que estas se tornem “autossuficientes e com ferramentas para se organizarem”.
Enquanto solução, as hortas verticais primam “pela redução de pegada ecológica e têm um aumento do valor nutricional dos hortícolas”, já que há uma base de agricultura de proximidade com as hortícolas a serem produzidas a metros de distância onde são consumidas.
De acordo com os responsáveis, este tipo de agricultura não usa pesticidas, não esgota os solos, colmata o desperdício alimentar e o desperdício de água, tem igualmente uma redução energética, podendo ter uma produção 10 vezes maior do que se fosse agricultura tradicional na mesma área usada pela torre.
Para o arquiteto Tiago Sá Gomes, um dos três mentores do projeto, a Upfarming surgiu no ano passado como “um projeto utópico” para o qual foram convidados a pensar Lisboa como cidade de futuro e de como se “poderia tornar uma cidade soberana a nível alimentar”.
“Começamos a pensar que vazio poderíamos ocupar a cidade, que espaços tínhamos disponíveis para implementar estas tecnologias e de que forma poderiam servir a comunidade”, explicou Tiago Sá Gomes, sublinhando que tem “um ângulo económico e social de valor acrescentado”.
Considerando que se pode tratar de um dispositivo futurista, Tiago Sá Gomes refere igualmente que, “se usado da maneira certa, pode ser uma ferramenta que permita às pessoas desbloquearem uma série de preconceitos que têm com estas tecnologias do futuro”, sublinhando que se podem e devem replicar em outros locais da cidade.
Criado no âmbito do programa Câmara Municipal de Lisboa Bip-Zip – Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária, com o apoio conjunto da Junta de Freguesia de Alvalade, a Upforming surgiu com o intuito de promover a autossustentabilidade alimentar pela horticultura vertical para consumo das comunidades locais, com enfoque nos bairros das Murtas e São João de Brito, em Alvalade, onde estão implantadas quatro mega torres verticais.
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