A ideia do louvor começou a ser pensada há um ano, com a promessa de Lúcia Fernandes pela "cura" do marido, Joaquim Agostinho, a quem doou um rim, e foi ganhando forma com o "carinho" que recebeu dos moradores do lugar de Agros, Santa Leocádia de Geraz do Lima, em Viana do Castelo.
"Há muito que temos capela, temos santos mas não temos festa. As pessoas estavam um bocadinho tristes com isso", lamentou a sexagenária.
Ainda em recuperação, "correu a freguesia toda a convidar o maior número de pessoas possível" para os preparativos, entre "autorizações" para fazer a festa, pedidos ao padre para celebrar a missa e elaboração do desdobrável para a anunciar a romaria.
"Para que a minha promessa tenha sentido isto tem de ter continuidade", desafiou, pensando já na constituição de uma futura comissão de festas que "garanta a devoção" em Agros, um lugar "isolado" no monte daquela aldeia, situada a cerca de 20 quilómetros da cidade de Viana do Castelo.
Em 1984, a distância e os difíceis acessos daquele lugar à igreja paroquial, no centro da aldeia, feitos por uma estrada, hoje asfaltada, mas apertada e íngreme estiveram na origem da construção do templo.
Ao repto lançado pelo padre João Cunha Viana os moradores responderam com "mão-de-obra e com material" e ergueram o templo que até hoje nunca funcionou regularmente como lugar de culto e devoção a São José e a Nossa Senhora da Boa Viagem.
A ideia da festa promovida por Lúcia foi "muito bem acolhida" pelo pároco. Hoje com 90 anos, João Cunha Viana "ficaria muito contente" que a "manifestação de gratidão" daquela paroquiana "pela cura do marido" se transformasse em tradição de um lugar onde a desertificação está bem presente.
"Há pouca gente, foram todos saindo", lamentou João Cunha Viana, pároco de Santa Leocádia de Geral do Lima há 60 anos.
No domingo, e apesar "das limitações da idade" quer estar presente na "semente" que Lúcia e a família querem lançar para que o lugar passe a ter não uma, mas duas festividades por ano.
"Quem sabe esta promessa não dê origem a uma festa em março, em honra de São José e outra, em agosto, em honra de Nossa Senhora da Boa viagem", afirmou a filha Olívia Fernandes, "braço direito" de Lúcia na confeção das "muitas centenas" de flores artificiais que vão ornamentar os andores, o interior e exterior da capela.
"Ainda não tinha entrado para a sala de operações para doar o rim ao meu marido e já pensava em como fazer uma festa diferente para atrair as pessoas e foi então que me lembrei das flores artificiais", explicou Lúcia.
Aprendeu a fazê-las na ‘net’ onde também pesquisou sobre os materiais, comprados com os fundos angariados na aldeia.
Mais de 50 folhas de papel Eva, outras tantas de cartolina, mais de 125 metros de papel crepe, perto de 100 pares de meias de seda de várias cores dão forma a "muitas centenas" de flores que Lúcia começou a confecionar em julho do ano passado. O marido, antigo carpinteiro, "ajudou nos trabalhos em madeira", e os filhos, quatro num casamento de 35 anos, também estão envolvidos na promessa que quer virar festa.
"Nunca imaginei a dimensão que isto ia tomar. Fiquei impressionada. A promessa já não é só minha. É toda a gente. Muitas pessoas reveem-se na minha história e muitos perceberam até que um transplante não é uma desgraça", admitiu Lúcia.
A primeira edição da festa na capela de Agros começa, às 14.30, com a missa, sermão e procissão. No final, haverá convívio, com broa caseira, chouriço e rojões são alguns dos produtos típicos do repasto, oferecido pelos habitantes de Agros.
Os andores e arranjos floridos vão permanecer em exposição na capela, até agosto, "mês de regresso dos emigrantes da aldeia".
Comentários