“Obviamente não é um bom sinal para a Europa”, afirma, em entrevista à Lusa.
Carlos Moedas, que esteve na Comissão Europeia entre 2014 e 2019, compara a proposta, que prevê contribuições nacionais de 1,074% do Rendimento Nacional Bruto (RNB), com o orçamento federal dos Estados Unidos, para frisar a incompatibilidade dos valores em discussão com as ambições da UE.
“O Orçamento do Estado americano federal são 20% do PIB americano, o orçamento, entre aspas, federal da União Europeia é 1%, portanto, a diferença é de 1 para 20″, diz.
“É muito pouco para a Europa, sobretudo se queremos ter maior ambição na área da Defesa, não estou a ver como é que vamos conseguir, se vamos continuar a querer ter ambição na área da ciência, […] se temos o drama que tem sido os refugiados, que vamos ter de continuar a encarar e a ajudar, [não sei] como é que vai ser”, explica, frisando que este tipo de valores “não é auspicioso de um bom futuro”.
O antigo comissário, que lança esta semana em Lisboa o livro “Vento Suão, Portugal e a Europa”, diz contudo ter esperança que até ao Conselho Europeu extraordinário da próxima quinta-feira “as coisas melhorem”.
“Isto é todo um processo, […] são negociações, e portanto o que vem hoje para cima da mesa não será o que sai”, assegura, embora sublinhe que a discussão ao nível do Conselho, constituído pelos líderes dos 27 Estados-membros, “é muito difícil, porque os países, cada um, quer a sua coisa, e aqueles que recebem não querem receber nem menos um euro e aqueles que dão não querem pagar nem mais um euro”.
Questionado sobre os avisos do Parlamento Europeu, que não só apresentou uma proposta mais ambiciosa, de 1,3%, como tem de aprovar o orçamento que sair do Conselho, Carlos Moedas frisa que esse “é o papel do Parlamento”: “Percebe que não é possível todas estas políticas que queremos fazer só com esse orçamento”.
“Penso que no fim do dia vai haver, tem de haver, acordo. Não interessa a ninguém não haver acordo”, insiste.
Entre as áreas financiadas pelo quadro plurianual está a Ciência e Inovação, que tutelou, e que espera ver dotada dos valores previstos.
“Eu tive o gosto de deixar já acordado com o Parlamento e com os países, antes de me vir embora, a criação de um Conselho Europeu da Inovação […], com financiamento de mais de 10 mil milhões só para essa transposição, translação, da ciência para a inovação”, explica.
Esse Conselho visa apoiar, acrescenta, a concretização do conhecimento científico, área em que “a Europa continua forte”, para o fabrico de produtos inovadores.
“Isso eu deixei acordado, aliás, eu deixei quase tudo no programa Futuro da Inovação e da Ciência acordado entre o Parlamento, a Comissão e os países, à exceção do número, só não conseguimos chegar a ter a certeza de que vão ser 100 mil milhões”, diz, frisando contudo ter “muita esperança que sejam” porque “toda a gente na Europa concorda” na necessidade de aumentar o orçamento para a inovação e para a ciência”.
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