“Não se justifica que, em pleno século XXI, tais barbaridades [sejam consideradas] como cultura”, disse à agência Lusa Beatriz Jesus, uma das manifestantes que participou na iniciativa organizada pela “Ação Direta”.
Já passava das 20:00 quando as cerca de cinco dezenas de pessoas, todas de máscara, começaram a entoar palavras de ordem como “Tourada e escravatura são a mesma cultura”, “Tradição não é justificação” ou “Touro para a arena nem mais um”.
Tentando manter o distanciamento físico, ainda que pequeno, quase todos os manifestantes empunhavam cartazes, nos quais era possível ler, por exemplo, “Nenhuma tradição é mais forte do que a razão”, “Enterrar touradas” ou “Tauromaquia é sadismo”.
No protesto, ouviram-se ainda apitos e cornetas e eram visíveis três faixas.
Para Beatriz Jesus, “é um pouco irónico” estar neste protesto.
“O meu pai foi forcado e defende as touradas. Eu estou aqui propositadamente para o oposto”, explicou.
A manifestante, de 22 anos, considerou que “estar ali um humano ou um touro é igual”, uma vez que “o animal que está naquela arena” sofre como qualquer pessoa sofreria.
“A tauromaquia move imenso dinheiro e, infelizmente, as coisas que movem muito dinheiro precisam de muito mais trabalho para conseguirem ser abolidas”, opinou, acrescentando que gostava que fosse possível que os adeptos desta atividade “conseguissem expandir o seu campo de compaixão”.
Em consonância com Beatriz, Taissa Pereira, de 27 anos, espera que o protesto sensibilize, não só as pessoas que se deslocaram ao Campo Pequeno, mas também os partidos representados na Assembleia da República.
“Gostava de poder plantar na mente das pessoas que o touro tem os mesmos sentidos que um cão ou um gato, os animais que defendemos, e que, no fundo, são idênticos”, acrescentou Filipe Fonseca, de 30 anos.
Taissa Pereira vincou que “é preciso uma mudança de paradigma” para acabar com a tauromaquia, opinião partilhada por Beatriz Jesus e Filipe Fonseca.
Contudo, as “coisas estão no bom caminho” e exemplo disso é a presença do PAN no parlamento, assinalou Taissa Pereira.
Também presente no protesto esteve o porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza e também deputado, André Silva, acompanhado pelas parlamentares Inês Sousa Real e Bebiana Cunha.
“É por demais evidente a falta de vontade política em, no fundo, terminar com a tauromaquia ou, pelo menos, que o Estado se mantenha neutro em relação a esta atividade”, criticou André Silva.
O porta-voz do PAN fez um paralelismo entre os jogos de futebol, que ainda não permitem adeptos nos estádios, e as touradas, que já contemplam público, ainda que com lotação de 50% e uso obrigatório de máscara.
O futebol “é uma atividade que acrescenta, humaniza, educa as pessoas para valores elevados”, enquanto a tauromaquia, na opinião de André Silva, “educa as pessoas para a violência”.
As pessoas que aguardavam pela hora da corrida de touros no exterior do Campo Pequeno pareciam indiferentes às palavras de ordem e ao ruído provocado pelos manifestantes, que duraram até ao início do espetáculo. Às 21:45, as vozes de contestação silenciaram-se e arrancou a nova temporada tauromáquica.
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